Objetos Abjetos

Sinto asco das cadeiras,

Apoiando as costas suadas,

Respaldando a mesa,

Com a sua madeira surrada.

O sofá repleto ouriçado,

Recebe bundas versáteis,

As nádegas são seu pasto,

Em corpos humanos voláteis.

A tela do televisor,

Arrepia meus pelos,

Mesmo sem interruptor,

Causando-me um medo.

No ar condicionado,

Seco até sufocar,

O som do degelo,

Pingando até soluçar.

Cada cabide suporta,

O peso de roupas esquecidas.

No abrir e fechar da porta,

Mundos, realidades, enigmas.

Travesseiros amortecem cabeças,

No mar de cobertas e lençóis,

Peças íntimas comidas por gavetas,

Espelho de reflexo que constrói.

Celulares pedindo atenção,

Computadores que piscam,

No escuro o led sem noção,

Os cômodos se arriscam.

Escova de dentes enforcadas,

Privadas formando lagos,

Toalhas em mesas desforradas,

Livros quase endireitados.

Sapatos com marca de rua,

Armários escondendo coisas,

Cristaleiras desnudas,

Acúmulo fétido de louças.

Seu corpo está lá,

Outra peça decorativa,

Nada mais restará,

Quando não houver vida.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 23/11/2014
Código do texto: T5045754
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