Querido Diário

Querido diário, hoje lembrei que te esqueci

em algum lugar na gaveta.

Junto a ti foram trancadas um milhão de palavras,

guardião dos meus versos, às vezes inversos;

complexos, intensos, melancólicos tormentos.

Ajuntei-me e espalhei-me

em cada página virada,

nos medos, na ansiedade das madrugadas.

Confidente e presente, caderno de adolescente;

às vezes dormitava debruçada,

sobre ti minha alma descansava

e, quando do mundo eu me ausentava

corria para ti, meu terapeuta silencioso;

escrever nas linhas das tuas páginas

era química perfeita, meu ritual;

então meu espírito e teu espírito

banhavam-se em chuva de palavras.