ESPÉCIE ESCRAVIZADA.

As bocas que hoje a cara me escarram

São as mesmas que ontem eu beijei

As mãos que teimaram em me acusar,...

São as que presentemente batem em minha porta

Às vozes que sempre ao mal me empurram

Basta-me o sussurro do silêncio que regozijei

Às tantas dores que o homem possa esposar

Tenha a compaixão como coima que lhe conforta.

Quanta coisa não saber,... Tantos mortos enterraram

Qual futuro conhecer se os amores desprezaram

Muitas costas açoitaram num passado vergonhoso

Tanto ódios adoçaram,... Para o filho orgulhoso

Qual a satisfação da paz que da terra é comida

Visto que no altar da vida, a morte é voraz...

Essa, tal, filosofia inteligente dessa espécie escravizada

Ela vem padronizada por um cérebro decadente...

Uma meretriz, ainda mal assumida!

Nessa sociedade anônima duma bondade que te apraz

A verdade sempre será alcoolizada,...

Quer queira ou não, o homem é um doente

Que tem o habito de julgar,... O que lhe é desconhecido.

Num mundo onde se doa o leite coalhado e o pão dormido

É onde se ensina uma fraternidade cega de sentidos

E é o cativeiro cerebral de seus pseudo-atos absolvidos,...

Uma pasteurização que te empurra a um céu benevolente

Uma crença que vadia entre as macieiras como serpente.

Essa avalanche de loucura que te estapeia com o papel

São as migalhas que catei no chão,... De sua existência infiel.

CHICO DE ARRUDA.