Palavras Soltas

No desembaraçar de contextuais madeixas, as letras despencam, como caspas desprendidas numa cascata sólida de caracteres. O volume que se forma abaixo da queda, são pequenas montas de palavras, que no sólido linear que o solo se pauta, vibram na concepção de frases. A mulher gráfica expõe seus signos, significando a cada significado. Vai e vem numa cadência de Jorge Amado. Encontro casual de desencontros magníficos. Nas suas tranças, encaracolados cachos de DNA, como samambaias multiplicadas em rizomáticas reentrâncias. Velam o rosto, já que face não passa de uma outra moeda. Troca-se a sombra da gruta rostilinear. Cada ângulo vem de um losango sombreado. Num pensamento morto, surge a dúvida de um outro quase torto sorriso natimorto. Mar capilar que se agita na rebentação do crânio rochoso que insiste em resistir.

Dança trança. Entre os teus fios vejo as sílabas com a tônica no balouçar. Invejo e vejo a náusea do sacolejo. Sebosa estrutura que faz a língua escorregar, em cada tentativa de se agarrar. Suas garras tateiam e o hiato ingrato faz agregar-se ao pó vislumbrado no texto. Do jeito que sacode o pescoço, uma cortina se move, com frestas de persianas, onde se imaginam olhos de espera. Faça o fato falecer, no rapel de Rapunzel. Criança que fia sem fiança. Tentarão te enlaçar, finta a fita e não vela a fivela, já que içará seu mastro apenas como trampolim para os que mergulham no infinito. Cama que chama a dama profana e clama no drama que inflama. Flama vestal que paralisa a quem o medo é medusa. Salta em bancos de areia, afogada em dunas de lua nova. Serpenteando em caduceu, androceu e gineceu, antes ele do que eu.

Beija e veja os despencados. Suicidas silábicos na comoção dos rejeitados. Hoje tombo e amanhã ditongo. Tribos de dialetos nos indigestos gestos adeptos da mentira do certo. Cego sigo o ritmo caótico dessas composições, propositivas, pré-posições. Julgo o jogo já que rogo rótulos na mumificação dessa numismática. Enumero como mero peso medido, já que o fardo virá impresso nas laudas escarificadas. Fonte morta na nascente, descendente perde os dentes nessa cova de vogais. Cava a vala e cala. Cada passo passa em branco, corretivo em gesto estanque. Confete de fezes do tinteiro, rabiscando a privada marmórea das páginas pálidas, plácidas, plasmáticas. Menina demoníaca que ri sem lábios, com dentes sempre à mostra, feito crânio de morto visto em vida por quem tem carne sobre os próprios ossos. Nossos ossos do orifício. Cada poro leva-nos a percorrer nosso sistema de esgoto. Fluxo e refluxo são nosso pequeno luxo. Beba dessa verborragia e engasgue, sufocando até o dedo da bulimia te fazer regurgitar, vomitando cada conjunção, num repente tricotilomaníaco.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 03/07/2015
Código do texto: T5298456
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