meus olhos

às vezes olho os meus olhos no espelho

e não estão tão alegres

quanto os tenho fingido...

e não são tão

bonitos...

estão

como se quisessem saltar

do despenhadeiro

— meus olhos —,

enfiar-se no abismo,

deitados na treva,

olhando, ao revés de fora, pra dentro,

afogados em pensamento,

com conjuntivite na alma — estão, mais que tristes,

doentes — meus olhos —,

desesperançosos,

doentes.

na noite, sozinhos consigo,

trocam o sono pelo cansaço e a vida, pelo desejo de dormir,

— dormir inalteradamente, inalcançáveis, definitivos.

acordam-se pela manhã, no entanto,

num esforço tremendo,

desgrudando remelas e mofos

e se armando desde cedo.

como duas bazucas

movimentam as pálpebras,

como dois canhões.

já meio insanos, vão indo

ao encontro do dia em que não precisem mais ver,

em que se deitem não para o sono,

mas para de todo

fora de si

em si se perder.