O QUE FAZEMOS DO TEMPO ?

O QUE FAZEMOS ?

por Juliana Silva Valis

O que fazemos do tempo é muito ou pouco

Diante de tudo o que ele faz de nós ?

E, ainda assim, quão lúdico ou louco

É o sujeito que nos olha do espelho

E nos pergunta se estamos sós,

Se ergueremos a voz diante do mundo,

Atravessando, no fundo, a rapidez dos dias,

Entre o luxo e lixo de toda injustiça

E de toda incerteza entre as noites frias....

Sim, o que fazemos da vida é muito ou pouco

Diante de tudo o que ela faz de nós ?

E, ainda assim, quão inócua

Ou estranha será essa questão ?

Será que somos, ao mesmo tempo,

Sujeitos e objetos de uma oração ?

Seremos sujeitos e sombras do vento,

Como um ciclo de causa e efeito sem fim?

Pois não sei exatamente a medida do sucesso

Ou do fracasso, dos atos que fiz

ou do que a vida fez, assim,

Tão rápida e imprevisível, desafiando o espaço

Entre o que eu fiz do tempo e o que ele fez de mim,

Nesse ciclo cômico entre passado, presente e futuro,

Não sei dizer quantas lacunas ficam, no fundo,

Entre expectativas e realidades, entre o certo e o obscuro,

Entre os sonhos, os desafios e as contas intermináveis do mundo...

Só sei, no fundo, que não somos sempre vítimas nem vilões,

Somos apenas corações que buscam respostas,

Somos esse acúmulo de emoções durante a vida,

Que se transforma, e nos transforma, sem medida,

Na versatilidade humana das indagações...

Já não sou quem eu era, e não sou quem pensei ser

Há vinte, dez ou cinco anos, no que antes vi,

Há sempre um novo e desafiante amanhecer,

E meus conceitos de antes já não estão aqui,

Meus sentimentos de antes foram, assim, crescer

Meus pensamentos voaram sem se despedir,

E, nesses ventos todos, o que irei dizer ?

Enfim, o que fazemos da vida é muito ou pouco

Diante de tudo o que ela faz de nós ?

E, ainda assim, quão lúdico ou louco

É o sujeito que nos olha do espelho

E nos pergunta se estamos sós,

Se ergueremos a voz diante do mundo,

Enfrentando a corrupção na rapidez dos dias,

Entre o luxo e lixo de toda injustiça

Das pouquíssimas pessoas com muito

E dos muitos vulneráveis com as mãos vazias ?

Talvez, assim, o que nos resta é o mistério do "ser"

O infinito mistério de ser e agir, sem garantias

Ou sem descontos entre as crises do alvorecer,

Entre as injustiças sociais e as afliçoes mais frias,

Sempre haverá esta pergunta: o que fazer ?

E, neste mundo injusto e louco,

Neste mundo de iniquidade tão veloz,

O que fazemos do tempo é muito ou pouco

De tudo o que ele fez, faz ou fará de nós ?

-----