Primeiro Epitáfio

Por vezes

Por fim à minha dolorosa existência

parece-me a solução para tudo que há de ruim

Dar um salto para o desconhecido

Sentir-me dona da minha carne

Caminhar pelo perigo

Ou, talvez

caminhar pela inexistência

Tantos foram os milênios que não habitei o cosmos

Que diferença faria se eu o deixasse agora?

A dor momentânea inquietaria os que me amavam

mas logo eles deixaram o cosmos também,

em um curto espaço de tempo desprezável perante à escala cósmica

E junto a eles, levariam os últimos resquícios do que um dia eu fui

que habitavam as suas mentes

deixando minha inexistência um pouco de lado

ressuscitando-me em seus pensamentos

Mas logo não haveria mais alguém para pôr rosas no meu túmulo

Chorar no meu aniversário

Ou sentir saudade dos momentos que passamos juntos

Quando isso acontecesse,

minha inexistência estaria completa

Mas isso já não iria fazer diferença para mim,

ou para qualquer outra pessoa

Seríamos seres inexistentes

Pessoas presas ao passado

Então,

o que fazer para permanecer vivo para sempre?

que marca no mundo tão poderosa poderei, eu, deixar

ao ponto de viver mesmo após a morte?

Mas, se sumir agora,

começarei o trajeto para a inexistência

e é por isso que não ponho um fim na minha existência nesse momento;

esperança de um dia viver para todo o sempre