Cacimba velha

Cacimba velha

Hoje eu me lembrei de ti

Nunca ti esqueci

Deu saudade o meu lembrar

De quando eu ia buscar

Água pra nós beber

Não me esqueço do caminho

Fechado de espinho

Acho que pra te proteger

A natureza é caprichosa

Nasceu tanto pé de rosa

Cada uma mais formosa

Só pra enfeitar você

De longe eu sentia o cheiro

E era eu quem chegava primeiro

Pra beber do teu viver

A água mais gostosa

Limpa filtrada da rocha

Fazia até gosto beber

Eu enchia as ancoretas

No pino do meio dia

Era a hora que as cotias

Também iam beber

E naquele calorão

Os bichos da região

Faziam procissão

Pra matar a sede em você

Mas o que mais me alegrava

Era quando chegava à passarada

E começava a cantar

O canto se espalhava

Nas rochas ecoava

Parecia não mais parar

E eu ali perdido

Encantado e esquecido

Nem me lembrava de voltar

Mas o homem é perverso

Não preserva o que está correto

E só pensando em enricar

Pois um empresário

Fez de ti um balneário

Pra turista se banhar

Derrubou toda a mata

E tua água em cascata

Parece até chorar

Acabou-se o encanto

Não se ouve mais o canto

Que eu gostava de escutar.

José Paraguassú
Enviado por José Paraguassú em 03/05/2016
Reeditado em 28/12/2016
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