AQUI ESTOU!

Nem que nos digam - nunca mais, nunca mais, nunca mais,

abra a janela e sinta o ar da manhã,

deixe que entre pelos tímpanos o canto da rã,

que te toque os dedos longos da brisa marítima do cais...

A faca, sozinha, o lento gesto de preparar a comida,

a alma, sozinha, o lento gesto de viver a vida,

o corpo, sozinho, o lento gesto de achar o caminho,

o tempo, completo, a mover os engenhos das uvas e do vinho...

Escreva palavras solteiras para que casem sentimentos,

palavras verdadeiras que nasçam sobre o cimento,

escreva às terças para que as quartas saibam de tudo,

escreva silêncios para ouvir o que parece estar mudo...

Nem que escrevam - o mundo acabou,

que escrevam - o reino está longe daqui,

escrevam - o amor se auto-exilou,

escreva você - aqui estou!