como você

"socorro!"
gritou o rapaz
diante da platéia.
mas ele não gritou
com o óbvio e nem
com nenhum sinônimo.
ele utilizou de seu
violão e de rimas em uma
canção tão brasileira
quanto seu sonho.

apesar de não ter visto
uma sequer lágrima de
compaixão, ele continuou
cantando sua poesia
sobre paixões em noites
frias e pés machucados
de tanto correr do
passado.

resolveu não encarar o
futuro nos olhos, mas
carregava no bolso da
velha calça jeans
surrada
uma arma
contra os perigos que
de dia lutava, porque
à noite a vida
lhe estava reservada.

abaixava a cabeça diante
das pessoas,
mas não se calava diante
das autoridades.

ele lutava.
ele lutava contra todos.
ele lutava contra também
a si mesmo.

e não gritava suas dores ao
travesseiro.
e não chorava suas dores ao
travesseiro.

e não desistia
de procurar
aquilo que a
humanidade
perdeu
de mais
valioso,
porque queria
mostrar a todos
o quão fácil era
de cuidar.
porque sentia
que este era seu
dever, assim como
lhe diziam nos
discos.

os amores que abandonaram
aquele sujeito magro de
ambição
passaram
a vê-lo
com um sorriso
diferente
a cada esquina
cruzada.

e anos pós ano
se considerava
sortudo
mesmo com a violência do mundo
aumentando a cada segundo.

"socorro!"
gritou o rapaz
nos quatro cantos
do quarto do hotel
mais sujo
da cidade
antes de pegar seu
violão
e se tornar o
sujeito forte
que protagonizava
suas músicas.
Cleber Junior
Enviado por Cleber Junior em 14/10/2016
Reeditado em 10/11/2016
Código do texto: T5791950
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.