MEUS GRILHÕES

Arrancaram meus grilhões

Minhas algemas, minhas amarras

Estou livre feito a pena de Castro Alves na Canção do Africano

Como a alma de Mandela acima da segregação

Ou o eco do grito de Zumbi pelos becos de minha favela

Não sou mais aquela

Que toda negra escravizada

Chorando o meu destino na escuridão da senzala

Na palidez do banzo com saudades de minha terra

No vermelho de meu sangue escorrendo pelo tronco do castigo escravocrata

Ou currada, à força saboreada, por meu amo branco, cheio de altivez...

Recolheram as chibatas

Já posso comemorar meu ideal treze de maio

Sorrindo,

Vou me iludindo

E me fartando na mesa da hipocrisia libertária

Sou livre? Não sou?

Excativa desgraçada

Deito meu filho, calada, no leito do abandono,

Não tenho senhor, nem dono, nem amor, nem ilusões

Ponho-me a beijar meu sonho,

Talvez temendo que a droga, o crack

Apareça, em meio do sono,

Venha matá-lo de uma só vez

O meu menino de vez

Que nasceu livre, inocente,

Não sabe dos meus grilhões.

By Nina Costa, in 15/05/2014

Nina Costa
Enviado por Nina Costa em 31/10/2016
Reeditado em 01/11/2016
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