O PRÊMIO

Procurei-te pela noite,
na madrugada parada,
me esgueirando pelos becos,
entre as luzes nacaradas
da cidade adormecida,
enquanto tu me fugias
- tresloucada, espavorida.

Por que foges doidivanas
de quem te deseja, te ama,
e dás a um outro qualquer
teus encantos de mulher?

Eis-me, aqui, esperançoso,
sempre a buscar-te, nervoso,
esquecendo o próprio orgulho,
tentando aplacar o impulso
de animal fero, bravio,
que se torna alucinado,
ante o cheiro almiscarado
de uma fêmea em pleno cio.


Para mim que te desejo,
és bem mais que uma conquista.
Quero ver, assim, de perto
teus olhos cor de ametista
e sentir, junto aos meus lábios,
a tua boca madura,
que tem um gosto extremado
de noites insones e escuras.

Tenho tudo... nada tenho,
para mim somente um prêmio
me faria vencedor.
Não quero, porém, uma taça,
quero só o teu amor.



(jun-91)