com portas

tomo notas como comportas que deixei passar

passo portas tortas quotidianas sem poder pensar

atravesso ruas com medo

soltos urros de desprezo

tento respirar fumaça e tomar agua da torneira

nunca corri em esteiras

prefiro o cheiro de bueiros misturados com flor

flor de laranjeira

flor de passageiro amor

contínuo como as ruas resistem ser

apesar do nosso apetite transversal

as ruas da cidade

imponente sociedade

desproporcional

damos tudo o que temos

recebemos o que sobra

de banqueiros cinzeiros de charutos enormes

caloteiros deputados latifundiários

sugam a terra em transe e cospem nesse chão

a terra treme

a febre viva

no meu corpo deságua em doenças

do corpo e da mente

é doente este ser que me dividiu

disse pra ter culpa e me fez esquecer meus planos mirabolantes

aeroplanos espaçonaves flutuando

NÃO!

disse o padre

aqui só o sagrado

emanado

"verdade que só eu conheço"

por ter pagado qualquer preço

pelo seu celibato

agora eu escrevo de longe

d'onde eu vim

queria um gole de vinho pra me despedir

mas casa

pra quem não tem medo do lado de fora

é como nunca ir embora