Contrastes

Sol de rachar em parte

Noutra chuva faz chorar

O Céu fazendo arte

Com tanta variação

As aves de arribação

Nem sabem onde pousar

Tanta seca lá pra cima

Cá embaixo inundação

Posso acertar a rima

Mas perdi a plantação

Quem foi que mexeu no clima?

Fez toda essa confusão

Que nosso Velho Chico

Não vire só lembrança

Outrora era tão rico

Incansável a brotar

Transbordava esperança

Já começa a minguar

Essa vida de “sofridão”

Não é por falta de oração

No nordeste em Juazeiro

Reza a Padim Romão

O sulista medianeiro

Faz romaria e procissão

Não pode ser pecado

Pagar tanta penitência

Deve ter algo errado

Pra haver esse sofrer

A gente tem resistência

Mas vem vontade de morrer

De que vale a ciência

O estudo e sabedoria

Dos homens do poder?

É preciso com urgência

Encontrar uma solução

Pobre ter todo dia a dia

Prato cheio pra comer

Nenhum vazio no coração

Se a seca é tanta que já

De fome morre o carcará

As enchentes levam tudo

Castigo de Xangô ou yemanjá?

Põe-se a culpa no Chifrudo

Mas, seja qual for a fé do piá

Do bixim ou do sarará

Não fique ninguém ao deus-dará

E se algum bem nascido doutor

Disser que deus quem quis assim

Com um abraço tentar lhe consolar

Responda sem pestanejar:

Acredita em destino, senhor?

Então, faça-me a gentileza

Fique com a minha pobreza

Passe sua riqueza pra mim

Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 09/04/2017
Código do texto: T5965798
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