O Atlas Prostituto
Oh ouro!Deus milhões de vezes lisonjeiro
Que afagas com pompa e abates com ferros,
Tu que condenas o pobre a míseros desterros
E elevas o rei ao poderio mais sobraceiro.
Os melhores êxtases carnais da matéria escrava
Frutificam no banquete de teu vasto império
Quer de índole cômica ou temperamento sério
Quer cisne de neve ou coração de lava
És tu quem subornas os deuses da sorte
Que o marco fixas da dita e da desdita
Dà-me a cortesã entre as belas favorita
Compra-me o momento,e o epitáfio forte
Me modela;ferve o crânio da humanidade
Prenhe de fantasias cobiçosas de grandezas
Bem como o escrinio nadido das belezas
De encontros festivais ateu encontro arde.
Grande prostituto a triunfar de nossas honras
Querubim abjeto e senhor venal da gente
Não é então felicidade um jantar contente
No restaurante que preludia as imorredouras
Alegrias do motel,entre vinhos de boa safra
Sim!O vinho nobilissimo da mais alta procedência
A companhia do sábio, a de melhor aparência,
O pão mais ditoso da ventura acaso não captas?
Que os pobres morram aferrados ao velho ditado:
A quem em são juízo não seduzis,galas do mundo?
Ao intelectual a biblioteca,a impressão;o jocundo
Gozo de haver namorado ao louco apaixonado.
Tudo dais,tudo mercais, tudo alcança o vosso
Braço colossal,semelhando no porte Atlas forte,
Que dirão de ti, quando soe a fatal morte,
Grande vendido, ante o desenlace certo nosso?
Tão certo quanto o outro lado da moeda
O espírito invisível é metade da existência...
Ora,ouro, compras-me até a consciência,
A fome é presença de vivencia muito azeda!
Deus soberbo!Pompeia,soberano multiforme,
Assume,oh Proteu,a forma do desejo universal,
Novo Prometeu cujo fogo alenta divinal,
Asa e limite a todos os voos do homem!
Assume a forma de meus mais lucidos desejos
Afasta de meu lar a desdita da necessidade
Pompa que espraias no horizonte da vontade
Dá-me,vivaz papel,desde os sapatos aos beijos!!!