NO MÍNIMO

Não, ninguém está desaparecido,

talvez se mire na garrafa de vidro,

olhe o sol da manhã a mostrar os dentes,

ande por aí procurando algo diferente,

a lucidez o tenha momentaneamente abandonado,

esteja calculando a velocidade da luz ao quadrado,

a apanhar no pomar a fruta para o seu saciar...

Estaremos juntos no topo da montanha

ou à beira do rio que desconhece o que é um rio,

somos aqueles que o Paraíso escolheu para povoar

planícies e gelosas prateleiras de geleiras,

os que vivem às custas dos sonhos sonhados,

somos o ouro a tanto tempo procurado

nas minas do Rei de Sião e os deserdados

que se transformaram em heróis diários,

lavando a louça ou limpando a pia,

somos aqueles que surgem, de vez em quando,

nos versos de uma bela e estranha poesia

escrita por alguém que, no mínimo,

está amando...