Cidadão
Menina, Quando te vejo no ponto de ônibus em uma terça nublada, a sua respiração se condensando na manhã gelada, com o vento frio, açoitando a favela, à beira das åguas pūtridas do rio, me vem palavras amargas.
As luzes dos barracos ainda acesas, tristezas nos olhares tímidos, dos maltrapilhos meninos do nosso paīs, futuras manchetes nos vespertinos, honra e glória, honra e glória dos ideais paladinos.
Mendigos embaixo do viaduto, detritos de um universo tīsico.
Delírio.
Os esquizofrênicos no pátio dos sanatórios estaduais, baby.
Atolados em meio a pesadelos existenciais me fazem ver.
O suicida ouvindo, o sino da tarde, alma ferida, perdida no centro da cidade...
Seguindo a própria sombra na calçada...
Somos os usuários de crack, que no inverno morrem congelados...
E a polīcia com seus ataques, narcisos às avessas, querem no pröprio sangue verem afogados.
Somos as mulheres que todos os dias, tem dupla jornada de luta e dor e que na lida da vida, com filhos ou maridos, raramente têm experiências verdadeiras com o amor.
Somos bichas loucas e fazemos caras e bocas, porque somos pretexto desde os nossos ancestrais, para governos totalitários que não solucionam graves problemas sociais.
Somos negros da periferia, não temos direitos ao sonho e a alegria. Os brancos roubam a nossa cultura e nos consideramos subhumanos mesmo quando nos dobramos às suas escrituras.
Somos negros, somos mulheres, somos gays e somos pobres...
Nem à obediência à Casa Grande, consegue nos transformar em personagens nobres.