O canto de Marco Leandro

Anda Marco na madrugada,

pós noite fria tua voz acaba.

Anda Leandro no alvorecer,

o ressecado sangue é novo ciclo.

Anda Marco Leandro,

no campo dos girassóis.

Pela manhã Ana

(de quem roubara a primeira flor)

violeta-o a lembrança

que agora é serena e clara;

Mas Marco inda procura na calçada.

Pedro se basta em olores suaves,

Gabriel colhe as amarelas

e Amélia, que é feliz com orquídeas;

Mas tu sabes bem o que lhe agrada.

Num momento a escolhe,

e por um instante a agarra.

E agarra nessa garra

que intrinca,e finca, embaraça

e envolve,enredam e rasgam,

e ri,

e chora,

e geme,

e clama,

e é tanta trama

pra um fim, tão apócrifo.

Quanto sol e quanto pranto,

esvermelhou na encantadora rosa

antes que fosse de seu encanto ?

A flor fica intacta,

enquanto Marco Leandro

cambaleia bêbado da essência

que ele próprio catalisara.

Incapaz de traze-la à jornada,

ele volta de volta ao canteiro

onde canta seu canto

o mesmo canto,

na noite fria:

"O sangue escorre,a lágrima circula,

eu acharei minha rosa nessa espada nua."

Mas na dor, sorri.

E o que dói nem dói tanto,

quanto a imensa dúvida lenta

que flui ao sangue num pleno sozinho:

Seria a paixão pela flor,

ou espinho?

Hygor Marques
Enviado por Hygor Marques em 27/06/2017
Código do texto: T6038540
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