Mãos que afaguei





A primeira mão que afaguei foi a de minha mãe.
Esta primeira carícia foi uma delícia, um êxtase.
Mamãe sorriu, enquanto acariciava-lhe a mão e sugava o leite.

As mãos do meu pai, ríspidas e insípidas causaram-me estranheza.
Ao afagá-las tive a primeira experiência de rudeza.
Aprendi que nas mãos de calos podem ter enfeites.

Afaguei mãos amigas que me conduziram nos caminhos da vida.
Minha professora e primeira mão que afaguei com paixão,
Mãos que de tão macias pareciam polidas.

O nome dela era Iracema, para mim a virgem dos lábios de mel,
Não tinha os cabelos negros como as asas da graúna, nem índia era,
Foi meu amor juvenil, um sonho, uma quimera.

Amei Terezinha, colega de escola, cujas mãos sequer peguei,
Por ela andei perdido em doces devaneios,
Tinha as coxas mais lindas e pequeninos seios.

Paguei para afagar as mãos de muitas putas,
Que me lançavam olhares de comércio ligeiro,
Que não me satisfaziam, nem me deixavam inteiro.

Mãos clandestinas estenderam-me livros proibidos,
Escritos por mãos libertárias e que li com voracidade,
Que me ensinaram o amor pela humanidade.

Depois afaguei com o amor mais puro e sincero,
As mãos da mulher companheira, amor sereno,
Que deixaram os meus dias plenos.

Assim aprendi que o amor dos pais
São feitos de palavras e sinais
Que entendemos quando temos filhos.

Quando afagamos suas mãozinhas,
Vemos em suas palmas tênues linhas,
Que são seus caminhos, seus trilhos.


Imagem: ma