Passarinho
Pobre passarinho...
Perdido no deserto da vida,
De infância sofrida,
De sonhos tropeços,
Feliz em miragem,
Já não canta,
Não ama,
Árido como o deserto
O coração do passarinho.
Sonha com a morte,
Não acredita na sorte
De sua vida mudar!
É fácil, passarinho,
Viver sem um ninho
E se acomodar!
Mas suas asas cansadas
Querem repousar.
Mas o que vês não é miragem.
É pura realidade,
Tu não consegues acreditar?
Uma árvore em flora,
Nesta linda aurora,
Onde suas asas
Podem descansar!
Quanta alegria ao pobre passarinho,
Que ele pôs-se a duvidar...
De tanto deserto,
Deseja o incerto,
Já não quer sonhar.
Não te esqueças bichinho,
Árvores são fortes,
Com raízes profundas,
Com copas frondosas,
Galhos diversos e firmes
Para te acalentar!
Não queiras voar sozinho,
Queira caminhos constantes
De cantos marcantes,
Onde a felicidade
Contigo estará.
Pense
No inverno,
No deserto,
Nas estações
E na árvore a mirar.
Não tenhas medo, passarinho!
Toda árvore tem ninho,
Você não precisa entrar!
Se recolha em seus galhos,
Nas suas folhas verdinhas,
Tem uma copa inteirinha
Onde podes descansar...
Quando o vento soprar,
As raízes profundas estão,
Ele não as vencerá,
E você, protegido
Das correntes de ar.
Pobre passarinho...
Perdido no deserto da vida
Pôs-se a duvidar!
Da vida,
Do bem,
Do mal,
De um sentimento sem igual,
Que a árvore te dá.
De um amor que não queres amar.
Mas lembre-se passarinho,
Não é bom cantar sozinho
Deixe a harmonia de inundar.
Ame-se de pouquinho.
Ame sozinho.
Deixe o amor te encontrar.
Ele está em ti,
Querei-lo matar?
Ele cultiva seu voo,
Ele cultiva a árvore
Onde não queres pousar.
Pobre passarinho
Pairando no deserto da vida,
Vive de feridas,
Deixe-as sarar.
Sara, chora, canta bichinho,
Tira os galhos do ninho,
Mas não tira minhas folhas
Passarinho.
Não corta meu tronco,
Vem repousar!
Teu voo foi longo,
Suas asas cansadas
Precisam parar.
Oportunize-se passarinho,
Esta árvore sem espinhos,
Só quer te ajudar.
Não arranque minhas raízes,
Não me deixe infeliz
Sem poder te amar.
Pobre passarinho,
Voa tão alto
Não me vês no solo
A te esperar...
Vem, pousa passarinho,
Te esqueças do ninho,
Não vês que por ti
Estou a florar!
Pobre passarinho,
Esta árvore sem ti
Não tem razões para lutar.
O deserto torná-la-á seca,
Sem folhas,
Sem caule,
Sem raízes,
Sem ar,
Viver sem amor, não dar!
Eu, perdida no deserto da vida,
Abandonada por um passarinho
Que não quer pousar.
Secando lentamente,
Perdendo as forças
Com o vento a soprar.
Até soprar o último Zéfiro
E a lembrança do passarinho
Para a terra irei levar.
Lucilene Bispo, 10.09.2014.