O voo dos pássaros feridos

Pássaros feridos

Nunca mais

Irão voar

Porque mesmo depois de curados

Insistem que dói

O que até os impede de andar

Insistem que está aberta

O que não passa

De uma velha cicatriz

Não parando de abrir

Uma imaginária ferida

Não parando de lhe tocar

Não parando de a olhar

Arranjando com isso um motivo

Para no abismo não se voltarem a lançar

O abismo

Onde está a sua natureza

Porque a sua essência só se materializa no ar

O ar

O abismo

Que estão destinados a conquistar

Mas não o fazem

Nunca mais o irão fazer

Porque as asas supostamente feridas

Não as deixam abrir

Insistem em encolher

Eles esquecem-se

Que não é o abismo

Que os pode matar

É o medo

Que os paralisa

E impede de tudo

Menos da ferida invisível

Continuarem a contemplar

Esquecendo-se também

Que um pássaro no chão

É mais fácil de matar

Um pássaro no chão

É um nada

Que qualquer um pode esmagar

Eles deviam-se lembrar

Nunca se deveriam ter esquecido

Que existe um local

Onde cada um

Está protegido

Um local

Onde não existem pedras

Onde podem tropeçar

Cantos

Onde se podem magoar

Paredes

Com as quais podem chocar

Esse local

Foi onde nasceram

É aquilo

Para que foram concebidos

O único sítio impossível

Real

Onde o teu sonho

Pode ser também o meu

O local que esqueceste

O meu

O nosso

Céu

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 08/12/2016
Código do texto: T5847416
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