Ainda sobre o Amor
As paixões são de repente,
Quem dura é o amor.
Por isso ele cresce devagar,
Desbravando o outro,
Feito bandeirante,
Elucidando o mistério, os conflitos,
Se tornando conhecedor,
Mais do que o outro conhece a si mesmo.
É uma coisa viva.
Que se alimenta dizendo: “eu te amo”,
Sem nunca ousar dizer eu te amo.
Não se deve dizer nunca eu te amo
E não deixar de dizer eu te amo.
Eu te amo com o ser inteiro,
Com o pensamento,
Com a sensação de estar presente,
De ser o preenchimento pleno do outro.
Que se não alimentado deixa os amantes sem sabores.
Desgostando dos gostares,
Até que as batidas do coração se estacionam em uma monótona sinfonia.
O beijo fica insípido.
Os olhos sem vida.
O tempo dissolve as lembranças em tempos de neurônios.
Esgota-se pela vida,
Como gotas de torneira,
E até prédios, avenidas, carros, gatos, cachorros ficam mais cansados, mais longínquos, como pedras de um caminho.