MARÍTIMO
Eu te pedi um beijo, nada mais.
Você, como um cargueiro atracado no cais,
se recolheu com âncora e corrente.
Já nem ouso mais me aproximar,
sou, apenas, ondas em um vasto mar,
que envolve o seu casco, numa carícia inocente.
Meus afagos acabam, sempre, como espumas,
tenho, somente, o consolo das brumas,
e o som arruaceiro das asas do albatroz.
Me causa inveja, a alegria dos golfinhos,
a cumplicidade de outros seres marinhos.
Adornados por borbulhas, passeiam entre nós.
Eu vou continuar te beijando os pés,
se não for pelo mar bravio ou revés,
jamais vou alcançar-te, por inteiro.
O fenômeno vindo, não será pra te afundar.
Com a minha força, o que quero é afastar
qualquer outro possível timoneiro.