SENHORA POESIA

Com pés de anjo

ando

a vagar dentro da casa da poesia

a comer hortaliças

de palavras macias

a beber da água que a eterna juventude cria

vago

com o grafite que esmago

para que nasçam palavras sem símbolos e signos

meros versos que já sabem que o destino

é viver entre camas de papel

e mendigos e putas

e abandonados

e taças de fel

imerso

numa sinfonia de epifanias

entre afagos do silêncio

e a voz da poesia

caminho

entre o leite que jorra das tetas

da mãe das crias

e o pólen que a abelha

rainha

fia

na casa desta senhora

que por ora

chamo de Senhora Poesia...

Esta humanidade separada

entre a fauna e a flora

e sendo assim

tocada

pelo dedo do celeste criador

e mesmo assim

possuída pela avareza

ainda que desenhada

pelo amor...