Conto do Exílio

- Hey, poesia, onde estavas que não te deixavas encontrar?

- Estava nas praças, nas ruas, sob a luz do sol, sob a luz do luar...

- Mas eu te busquei, e não te encontrei...

- Porque declamava desde o nascente, até o poente, clamei, implorei, um pouco de pranto, um certo acalanto, e muito da alma, e do coração...

- Ó, poesia, eu te entendo. Andastes à procura de um motivo pra chorar...

- Não, mas um reconforto ao meu pranto derramar...

- Mas eu não entendo, se és o clarão do dia, e a relva da noite, o frio do desencanto, o calor do reencontro, onde estavas quando eu sofria e chorava e ria e amargurava sozinho?

- Não estavas sozinho! Enquanto sofrias, chorava contigo, e quando choravas enxugava teu rosto, e se amarguravas contigo sentia...

- Mas, poesia, em rimas e trovas, o meu doce encanto, a minha guarida, meu frio recanto.... agora, te busco por meu desassossego, em meus conflitos, e meu desencanto... te invoco na chuva, no vento, na noite em que me conforto na tua presença, conflita e contrita, dividida, sofrida... e em um novo dia, mais um que se vai, que se foi, que vir nesta sofrida e tão parca vida, serena, confusa, oposta, em conflito...

- Se queres que eu, poesia da noite, alegria do dia, venha observar as tuas angústias, em tua existência.... eu estou aqui, pois sou teu exílio, e o teu aconchego, o descanso na paz. Não te cobro nada, não ser coração, a tua verdade, estampada em solidão, o teu findo choro, caído ao chão....