Prece
 
 

Madrugada;
Os olhos se abriam de repente
Na casa vazia.
Na cozinha,
Uma xícara de chá de solidão.
 

Por companhia,
Os ecos das batidas
Soando pela casa:
Um relógio carrilhão.
 

Uma, duas, três horas de agonia,
Quatro, cinco, seis passos pelo chão
Marcado pelos saltos
De quem não mais voltava.
 

A prece em desespero
Às pressas recitada,
Palavras gotejadas
Aos pés da madrugada...
 

A prece, bem aos poucos
Virando imprecação:
"Para onde foi aquele
Que transformou-me  a vida
Nessa desilusão?"
 

De volta à cama, o suor
Após o pesadelo...
-Não há nada que apague,
Ou que traga de volta
Por esses mesmos trilhos
Aquilo que se foi!
 

Sozinha pela vida,
Tornara-se refém
Daquela prece árida,
Daquelas noites pálidas
De dores sussurradas...
 

Nada mais lhe restava,
A não ser uma prece
Na qual não acreditava,
E a última palavra
(Que conhecia bem)
Pois era a que selava
A sua solidão:

"Amém."


Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 05/04/2017
Reeditado em 05/04/2017
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