Em Regresso à Casa dos Loucos

Os psicóticos esperam na sala de paredes cor salmão.

A Secretária enfadonha matraqueia sobre os últimos

mortos e sobre a política;

os dedos turvos da loira, amarelados pelo filtro do cigarro,

tocam-me as pernas; sinto a tristeza dos seus dedos

penetrando por minhas calças e invadindo as minhas

doentes membranas;

ela chora pelo marido pisoteado por militares,

chora porquê a sogra arrancou o último tostão

que ela usava para amamentar os filhos fracos,

os filhos fracos que cagam no chão da casa,

os filhos fracos que não tomam leite há um mês,

enquanto a Secretária matraqueia com o pequeno

clérigo que diz ter visões de Deus;

"Oh, mas porquê Deus permite tantas doenças?

Tantas mortes?"

Somos suicidas ao sair de nossas casas,

somos suicidas por termos mentes,

somos suicidas por ligarmos o fogo todas as

manhãs para sentir o cheiro de café;

mamãe ao meu lado os contempla, vovó um dia viera

por estas bandas, agora, a onda do tempo empurrara

como um pequeno pedaço de pau seu filho

líquido; incapaz de ficar de pé pela segunda vez,

sentindo-se fatigado ao ouvir a voz da Secretária

dizendo e dizendo tantas coisas sem sentido que

ele mesmo se pergunta porquê aquela mulher não

encontra-se ali como uma paciente;

teus pensamentos imersos nos vendavais,

teus pensamentos imersos nas obras de Goya,

teus pensamentos imersos no necrotério onde sua avó

encontra-se putrefata,

incapazes de realizar sinapse,

mais uma vez sentado à poltrona do psiquiatra,

em regresso à casa dos loucos.

Pumpkin
Enviado por Pumpkin em 22/09/2014
Código do texto: T4971573
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.