Vida que segue.

Digo a você, leitor desta poesia,

que se esperavas desacerbada paixão,

frustrará-se. Que fique claro como o dia,

que em mim restou apenas solidão.

Apagado. Destruído. Estripado.

E quem convive tem em mente

que seja apenas uma fase ao meu lado

E de fato ninguém sabe, só quem sente.

Minha vida resume-se à carnificina,

à sangria que fizeram em minha alma

que um dia antes, quem considerava menina

perdeu de vez tudo aquilo que a mantinha calma.

Pobre menina a que perdeu o domínio

daquilo que um dia ela chamou de corpo.

Pobre mulher, que vive com o fascínio

de que um dia suma da vista a imagem daquele porco.

Que aquelas palavras morram

e apaguem-se daquele coração em brasas.

E mesmo que as lágrimas ainda escorram,

espero que um dia lhe devolvam as asas.

Espero que em uns anos a angústia

dê lugar à justiça merecida

e que essa recente antipatia

a transforme numa bela mulher vivida.

E na vida esse agressor há de aprender

que antes da força, tem que conquistar.

Que se ante às circunstâncias a vida lhe permitiu viver,

agora a mesma vida o fará pagar.

Não se tiram sonhos de menina;

Não se arrancam pétalas de uma rosa;

Porque aquilo que a alguém se destina

voltará a si, e farei uma prosa.

Por aqueles olhos que pararam de brilhar,

pela ousadia que parou de aparecer,

pelo sorriso que deixou de guiar

a cabeça que ainda vinha a crescer.

Que ela não se perca nas crueldades do mundo,

que não ache que a vida é só sofrimento,

que não desacredite num sentimento profundo,

e que saia desse terrível desolamento.

Que nessa prisão que ela foi condenada

a pena não seja a morte certa.

Porque agora sua força está sendo testada

e a vida lhe dará uma porta aberta.

Corra desse abismo, nova mulher!

Fuja desse destino, pobre sofredora!

Junte os cacos do coração que restou

e erga uma ponte, um muro, uma barreira,

e sua cabeça.

Não fique assim não, minha linda, nada aconteceu, não é? Vida que segue.