Triste sou eu
Triste sou eu aqui escrito
É o que eu apaguei pra ninguém ler
A arte bucólica das horas travadas.
Triste foi cristo
e quem estava lá para ver
Triste foi as tantas chicotadas
além da poeira de terra seca.
Triste são as figuras faladas
que ninguém intende.
Triste é a avareza
Triste é a moeda cobiçada.
Triste somos homens
de felicidade estreita
no beiral do vigésimo andar
andar, de cada passo triste.
Até a queda livre do devaneio
ou o desmaio no altar
ou num triste caminhar.
Tristeza mesmo é o agora
que nunca mais se repetirá
o barulho da porta
e saber que ninguém mais vai entrar.
Triste é se sentir inútil
Enrolado na cama e com luz fraca
Não saber conduzir o sexo
Ascender um cigarro e beber do cantil
Bater a cabeça na cama
e esperar outro dia de retrocesso.
Triste sou eu
com tantos livros que não leio
com uma vaga no corpo, que ninguém ocupa
triste é o amor meu
é o receio
é a boca que não chupa
é a mão que o cão lambeu.