Sal

Hoje sou sal...

Sou essa acidez que arde, que queima, que corrói

Sou esse desconforto sobre a língua

Sobre a úlcera da palavra escrita, do discurso mudo

Sobre a ressaca do mar que determina o meu 7° dia

Sobre a questão do amor/ódio - irmão iguais

Sobre o pútrido beijo que derrete na sarjeta

(A de morrer em cada esquina um casal)

Sobre a centelha do fogo da paixão enganosa

Sobre o punhal que fere, que marca, apunhala a mão

Sobre o dilema do adeus sem dedos

Da boca sem língua,

Da paisagem sem cor,

Da luz que é cega e fria no colo da amada

Sou do amor e da dor...

Do amor, que suscita o lirismo de uma alma transparente

Da dor, que reproduz o sal que transpira dos olhos ocultos

Hoje sou sal...

Sou a acidez da parede, que modifica na sombra

Sou a penumbra do teu corpo esquecido

Que ama, e chora na hora exata do último beijo

Hoje sou sal...

Hoje sou...

Hoje.

Ney D Cordovil
Enviado por Ney D Cordovil em 23/09/2017
Código do texto: T6122664
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