Hoje

Hoje, inesperadamente,
a chuva banhou por longos minutos
a face de minha existência.

Minh’alma inquieta, impotentemente,
debruçou-se na janela do meu aposento,
ouvindo indolente as reclamações do meu eu.

Provo o sabor salgado das gotas,
que mansamente, deslizam e chegam aos lábios,
fertilizando ainda mais minha melancolia,
inundando as pradarias do meu ser.

É tarde agora, o sol brilha lá fora,
Mas meus olhos estão tristes,
Não conseguem ver o seu esplendor.
E eu peço perdão, estou frágil!

Pensamentos estão nublados,
Do mesmo modo que nos dias de chuva.
Um vento cortante gelado
Afetam a sístole e a diástole do meu coração.

Tento conter a chuva,
mas as correntezas são fortes.
Ouço os trovões, lá nas profundezas da alma,
e vejo os relâmpagos
rasgando a imensidão dos meus pensamentos.

Já se aproxima a noite,
E no limiar de minha angústia,
minha voz entrecortada, grita o teu nome
e o eco se espalha no espaço,
batendo nos vitrais coloridos em luzes de neon.

Então olho pro céu, brilhante,
envolvida pelos braços da noite,
sinto, então, a brisa tocar meu rosto molhado
e o vento sussurrando docemente: SAUDADE!

E em pensamentos transpor-me,
numa viagem solitária e mágica,
a contemplar o muro dos vitrais,
os quais refletem e vejo a tua imagem.

Meu sorriso apareceu neste espelho
Sublinhado por uma canção triste.
Já não sei quem sou e nem sei o que existe,
Dentro desta imensidão onde só posso pensar.

Onde meus olhos não conseguem ver
O que o coração insiste em querer.
Ah, esse coração que por si só não pode ser.