Quando eu for embora:

Quando eu for embora:

Quem irá apagar as luzes,

quando a luz do Sol se acender?

Quem irá reacende-las,

quando a noite outra vez projetar sombras escuras?

Quem irá se preocupar com as curtas horas do dia,

com os rápidos dias da semana,

Com os meses que passam tão depressa,

que parecem competir numa diária São Silvestre?

Quando eu for embora:

Quem é que vai acordar

com beijos carinhosos,

com abraços apertados,

com guerra de travesseiro, os meus filhos?

E quem vai lhes declarar o infinito amor que sente por eles,

e dizer, até que se cansem de ouvir,

que são as pessoas mais importantes,

mais lindas, mais gloriosas do mundo?

Que o simples fato de existirem,

fizeram da minha vida uma experiência memorável?

Quem vai encostar o ouvido nos seus peitos, no meio da madrugada,

para ver se o coração esta pulsando, e,

por um espelho próximo as suas narinas,

para ver se a respiração embaça o espelho?

Quem vai ficar em estado de alerta quando não conseguirem dormir,

ou se dormiram demais, ficar de sentinela,

para certificar de que não estão doentes?

Quando eu for embora:

Quem vai socorrer o ferimento da ausência de amor;

Das lágrimas contidas pelas derrotas sofridas;

Das angustias que antecedem as provas difíceis que terão que passar;;

Da sofrida duvida da espera pelos resultados;

Das tristezas provocadas pelas amizades desfeitas,

pelas traições dos amigos,

pelos amores mal acabados,

pelos romances mal sucedidos?

Quando eu for embora:

Quem vai compreender sem nada ouvir,,

e dizer tudo o que precisam ouvir sem proferir nenhuma palavra?

Quem vai rir de tanto chorar com as historias que os faz felizes,

quem vai chorar de tanto rir do brilho de felicidade que faísca nos olhos,

E dos sustos que, geralmente no meio da madrugada, disparam

o telefone e alivia o sofrimento da ausência de comunicação,

quem vai passar horas, dias, sem dormir, sem comer,

sentada ao lado de uma cama de hospital

só porque o filho passou por uma cirurgia de amigdalite?

Quando eu for embora:

Quem vai abraçá-los e desejar que Deus os cuide, os acompanhe, os proteja,

mesmo que a viagem seja até a esquina de casa?

Quem vai sonhar acordada com o barulho da fechadura se abrindo;

Quem vai aconselhar para que ao dirigir,

não o façam embriagados, seja pelo álcool ou pelas emoções;

Quem vai lhes dizer que não precisam de drogas para serem felizes;

E que amigos verdadeiros não se ferem nem ferem os outros;

Quem vai lhes ensinar que vitórias pertencem aos sonhadores,

mas que terão que trabalhar duro e dignamente para conquista-las;

Quem vai lhes falar, e falar, e falar…

que o caminho das drogas, da prostituição,

da bandidagem, do crime, não compensa?

Que a dignidade é um título de nobreza fadado a extinção;

Que terão sempre o direito de fazer escolhas,

mas também a obrigação de assumir as consequências

por cada uma das escolhas que fizerem;

Que deverão reconhecer os seus erros e culpas,

para que um inocente não pague por seus crimes;

Quem irá lhes dizer que não façam aos outros

aquilo que não suportariam que lhes fizessem,

e que só conseguirão sentir verdadeiramente o impacto dos seus atos,

quando se colocarem no lugar daqueles que por eles foram vitimados?

Quem vai lhes afirmar que a paz de espírito,

que a consciência tranquila, é o maior tesouro na vida de um homem;

Quem vai lhes ensinar que se permanecerem amigos de Deus,

íntimos do Seu amor, poderão perder tudo o que a matéria pode comprar,

e ainda assim serão os seres mais afortunados da existência humana;

Quem irá lhes ensinar a “adubar” o terreno do amor ao próximo,

de uma vida melhor para todos,

da necessidade de praticar diariamente a justiça social?

Quando eu for embora:

Quem irá ensinar aos meus filhos que não é a ausência do ódio,

Mas a escassez do amor,

o vilão responsável pela decadência das famílias,

pelo esfacelar da humanidade;

Quem os irá amar tanto quanto amo,

ao ponto de compreenderem que amor a mais nunca é demais;

Quem os irá ensinar que a vida é uma dadiva,

um presente de Deus, e que,

somente Ele a concede, e, somente Ele pode tomá-la de volta;

quem os irá falar da magia de acordar a cada manhã

e ver, ouvir, sentir, o deslumbramento imensurável que é estar vivo;

Quem os irá ensinar sobre o Criador

e sobre toda a beleza infinita da Sua criação;

Quem irá lhes falar da importância de viver em comunidade,

de propagar as mensagens de Deus,

de compartilhar os bens que possui, com os seus irmãos,

sobretudo aqueles que mais necessitam;

Quem irá lhes ensinar que quando dividirem

com os seus semelhantes,

não estarão subtraindo em quantidade, ou, em qualidade, as suas riquezas,

mas multiplicando através da felicidade, da benção e do agrado à Deus?

Quando eu for embora:

Quem abraçará com amor eterno,

destituído de qualquer interesse,

de qualquer beneficio que não a felicidade,

a segurança, e o bem estar, os meus filhos,

e quem os ensinará que estamos aqui de passagem,

e que, essa passagem é sempre curta,

mesmo para aqueles que vivem por 90, 100 anos;

E que um minuto de bobeira,

pode lhes proporcionar sofrimento,

amargura, que os acompanharão até o fim dos seus dias?

Quando eu for embora:

Que os ensinará que a única certeza que terão na vida é a morte?

E, quem os irá ensinar…

no momento exato do maior aprendizado pelo qual terão que passar,

. e espero sinceramente, que já tenham aprendido comigo,

que ninguém morre realmente.

Que somos eternos viajantes do tempo, de cada existência;,

E que na “bagagem” de cada uma delas, de cada reencarnação,

levamos as experiências de todas as vidas que vivemos anteriormente,

armazenadas num disco rígido de memória que chamamos de alma.

Cujas memórias transcendem a condição do corpo físico,

bem como o limitado poder de entendimento,

que a espécie humana possui dessa transição?

Quando eu for embora:

Quem dirá aos meus filhos,

com todo o amor e paciência,

que o doloroso golpe da separação temporária provoca,

que não me perderão, mesmo depois da minha partida;

Que jamais os deixarei, que nem por um instante meus olhos,

meu coração, e o infinito amor que em vida lhes dediquei,

não farão deles órfãos, só porque não podem me ver?

Quando eu for embora:

Quem se lembrará de nao deixá-los esquecer de ir ao meu encontro,

no sacudir do vento nos galhos das árvores,

no cantar harmonioso de cada pássaro,

no colorido vivo de cada flor,

no majestoso desviar de obstáculos da água dos rios,

nas ondas sempre tão inspiradoras e intrigantes

que quebram na areia, nas restingas marinhas,

no convívio carinhoso de cada animal,

na amizade e olhar, indispensáveis à absoluta felicidade, de cada criança,

nas palavras sábias daqueles, cuja idade avançada,

já viveu o suficiente para lhes ensinar e prevenir

sobre as dores e alívios, sobre as alegrias e tristezas,

sobre o medo e a coragem, sobre o amor e o ódio que terão,

inevitavelmente, que enfrentar na vida;

nas nuvens que se metamorfoseiam no céu,

na chuva que cai na madrugada, e,

transforma o gramado em um belíssimo tapete de proporções gigantescas.

Enfim… quando eu for embora:

Espero que encontrem na vida seres que os ame e por eles sejam infinitamente amados;

Que haja em suas vidas um Antonio Conselheiro, que,

os ensine que para cada ser que se deita na sepultura,

outros tantos milhares se levantam na eternidade em forma de reencarnado.

E que dentre tantos desses espíritos de amor, de luz… um deles pode ser eu, a mãe deles…

Valéria Nunes de Almeida e Almeida
Enviado por Valéria Nunes de Almeida e Almeida em 16/05/2017
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