Crianças cruzadas

Bianca é também a Bibi. Lê um gibi.

Estuda um vaqueiro de gibão e uma velhinha que tem uma giba.

Mas nada diz sobre o blá-blá-blá dos quadrinhos. Não tem talento para escriba.

Aí, outra menina, tomando banho de bacia e abocanhando sabão, pegou-lhe emprestado o “bê”.

Foi a Belinha, cujo nome verdadeiro é fácil de adivinhar, Isabella.

De noitinha, ela fica tagarela.

Sempre pede carninha de panela.

Gosta de banana mágica. Vovó compra verde, mas, no outro dia, aparece amarela.

Dando um jeitinho, alguém se pendurou num de seus “eles”.

A traquinas se chama Jujú.

Para os franceses, Joujoux.

E, para os menos íntimos, só Júlia.

Essa travessa sempre será assunto numa tertúlia.

E foi com muito cuidado que outra criança aproveitou a brincadeira e, da Júlia, surrupiou o “a”.

Trata-se do Gustavo, o Gú.

Ele desenha tatu e urubu, come angu e pede sagu.

Mas sua mãe não dá. Sagu é doce demais, estraga os dentes.

Gustavo gosta de ser boa-praça.

Passou o seu “gê” pra outra criança ficar contente.

E fez isso de graça.

É a vez da Giovanna.

A menina adora caldo de cana.

Porque, com o caldo, vem sempre um pastel.

De noite, antes de dormir, ela nunca esquece a oração do papai do céu.

Giovanna tem dois “as”, e de bom grado, deixou alguém levar um.

Assim, apareceu a Letícia, toda carícia.

Menina inteligente e esperta.

Na sala de aula, ela sempre acerta.

Ainda que seja a bolinha na cesta, e só às sextas.

Exibiu o seu “ele” com orgulho. Mas não foi egoísta.

Facilitou a entrada de outra criança nessa lista.

Daí chegou o Lucas.

Quando crescer, ele vai ser vendedor de perucas.

Menino engraçado, ginga de lado e chuta pra fora.

Não tem problema, é só uma criança agora.

Outro menininho veio de mansinho, e levou o “u” do Lucas.

O danadinho é conhecido como Bruninho, ou Bruno.

Agiu como gatuno.

Porém, tem decência.

Será o preferido dos professores, quando chegar à adolescência.

E, como afanou, permitiu também que afanassem o seu “n”.

A Ana, que ninguém engana, quis brincar também.

Ela é modesta. Seu nome apenas três letrinhas tem.

Mesmo que seja um pouco manhosa, Ana é caridosa.

Doou um dos seus “as” para a criança que vem.

E eis que surge na história a Sofia.

Na escola, ela se interessa muito e muito por Matemática e Filosofia.

A pequena pensadora certa vez inventou uma brincadeira, o jogo das crianças cruzadas.

2015