Lembranças da Juventude

Esses dois que aparecem nessa foto são irmãos, o de boné é o personagem dessas lembranças. Meu companheiro é meu irmão mais velho do que eu; o mesmo ainda mora em Amaraji lá em Pernambuco.

Lembranças de Amaraji
Eu as tenho pra sobrar
Ali aprendi quase tudo
Mordida de mangangá
Encarei corte de cana
E carreira atrás de preá
 
Éramos dois heróis
Sempre na defensiva
Ora carregando carga
Noutra cortando maniva
Com ela fazia as roças
Para comprar as camisas
 
No plantio de bananeira
Eu dava Show de balão
Cortava e carregava
Pra botar na infusão
Quando era na 5ª feira,
Vitória de Santo Antão
 
Lá na feira de Vitória
Birino lá não ia não
Menino só servia mesmo
Pra andar em procissão
Fazer mandado pros outro
E levar mesmo muxicão
 
Moua levava vantagem
Em tudo que ia fazer
Minha mãe lhe dava corda
Até para me bater
Nunca ousou fazer, portanto
Para não se arrepender
 
Até meus doze anos
A vida era mais diferente
Tinha um grande suporte
Meu pai sempre presente
Ai veio a grande desdita
Sua viagem para sempre
 
Fez uma falta danada
Para todos da família
Parece até que a casa
Ficou pura sem mobília
Moua ai entrou na história
Bem, ele já estava na trilha!
 
Lá no sítio Guariba
Do Engenho Não Pensei
Plantávamos de quase tudo
E vendia a qualquer freguês
Batata laranja e manga
Pra vender quatro por três
 
A vida foi bem difícil
Tive pega com Guará
Matei cobra venenosa
E carreguei cassuá
Cambitava nos cavalos
E os ajudava a tratar
 
Para freqüentar  a igreja
A parada era pesada
Mamãe não tinha pena
Reclamava a tabuada
Se eu não fosse à missa
O couro era quem pagava
 
Ora, eu bem que obedecia
Apanhava de três mulheres
Duas irmãs e mamãe, assim
Descontava nos talheres
Pois sempre fui bom de boca
E queria o posto de alferes
 
Veio a primeira comunhão
Foi aonde aprendi mais
No confessionário então
Com os frades pardais
Que safadezas eu fazia?
E eu, com as meninas jamais!
 
Para receber a hóstia foi pior
Tinha que aprender a rezar
Maria Andrade treinava
Todos para comungar
Simulava com os dedos
Na língua da gente a passar
 
Lá no engenho Rio Morto
De Dos Anjos eu era aluno
Comecei com muito afinco
Dizia vou acertar o prumo
Lá eu fiquei quase doutor
Ai mamãe mudou o rumo
 
Passei logo a estudar
Com D. Lourdes Barbosa
Professora muito exigente
Mais parecia uma rosa
De tudo ela conhecia
E não enjeitava prosa
 
Daí foi à vez do ginásio
Meio mundo de professor
Latim, Francês e Inglês
Padre Zé Leão sim senhor
Esse veio da Alemanha
Era professor e pastor
 
Língua estrangeira era Aline
Filha de Dona Da Paz
Ensinava Latim e Francês
Deixando-nos bem capaz
A enfrentar a universidade
Sem carregar saco no cais
 
Português com Amarinha
Filha do velho Erasmo
Matemática com Dijalva
E dona Maria do Carmo?
Essa ficou na disciplina
E era mesmo um carrasco
 
Boas lembranças eu tenho
Chamava-se Dona Da Paz
Tirava-me do castigo e dizia:
Cuidado com Neide, rapaz!
Essa sim, era uma disciplina
Não a esquecerei jamais
 
Sua filha, a professora Aline
Ela, eu aplaudo de pé
Quando me casei com Dáia
Na igreja de São José
Ela cantou lá de cima
Uma música com boa fé
 
Chamava-se Soleado
“A música que veio do céu”
Cantada por Moacir Franco
E referendada com véu
Devo muito a essa moça
Pois dessa eu tenho o troféu
 
Minha cara Normalista
É assim que vou chamá-la
Dos corredores da escola
Para seu humor acalmá-la
Fez carreira na faculdade
Onde conseguiu dominá-la
 
Com a Normalista no Leme
Desse barco de louvores
Conseguimos dois rebentos
Sem depender de favores
Apenas trabalhando muito
E hoje são dois doutores
 
 


 
Birino de Amaraji
Enviado por Birino de Amaraji em 05/10/2011
Reeditado em 12/01/2016
Código do texto: T3260064
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