Transcendência
Ah, quem me dera
Transcender desta era
A exemplo do Messias e seus fieis
Assim como aqueles
Que do chão despregam os pés
Partir desta realidade
Onde só se encontra
A vil brutalidade
Esquecer quem sou
E com o coração cheio
Pela primeira vez escolher para onde vou
Pois sou como alguém
Que não tem senhorio
A quem nada se pergunta
De quem não se leva a sério
Nem mesmo um pio
Mas ainda não sei
O porquê de tanta solidão
Pois mesmo cercado de afeto
Nada basta
Para saciar meu coração
Alguns me acusam de
Minha pessoa sempre estar a cuidar
E com os demais
Nada me importar
Mas o que posso eu
Tolo paquiderme encouraçado
A espera da primeira flecha
A ferir -me o lado.
Do mundo pouco conheço
E o que sei já me basta
Para não querer retornar
Preso a esta mesma carcaça
Por isso sigo sonhando
Um mundo sem feiúra
Sem gordura
Sem desprezo
Sem pudor
Um mundo onde
Não me sinta coagido
Um mundo onde possa
Ser o rei da etiqueta
E a todos saudar
Bonjour !
Comment ça va?
É que sempre
Que meus olhos fecham
Vejo o enorme mar
De escuras águas vazias
Vejo que por mais que queira
Nunca preencherei minhas noites frias
De que posso falar
Se não do que mais conheço
De minha pobre, tola
E inconveniente pessoa
Da banalidade que é
Esta vida para mim
Do desejo enorme que sinto
De transcender a um mundo
Onde os sonhos não tenham fim.