ESTIAGEM

Perdi, no cerne rasgado do tempo,
onde se imantavam sonhos dourados,
as reminiscências dos pueris cortejos.

À passagem de luas e flores alvoroçadas,
exilei-me excelso entre carnes e verbos
em vicejantes despertares sem aurora.

Na intermitência do ubíquo devaneio,
mares, planícies, estações,
amores, esperanças e vastidões
a se imiscuírem em enlaces ébrios de tudo.

Com o espírito exausto do sortilégio,
a fé foi que me fugiu por derradeiro
sem nenhuma verdade da hora.

Naufraguei-me, então, nos recessos de meu ser,
e – se é que já fui –, não sou mais apóstolo,
amante ou amigo em meu estuário
nem de homens, nem de deuses.

Sou apenas um apócrifo a trafegar no desalinho
onde tremulam mortes em túmulos de vida,
porque viver é se travestir de máscaras
bordadas nas turbidezes de nossos egos.

Péricles Alves de Oliveira
Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)
Enviado por Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent) em 21/08/2014
Código do texto: T4931776
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