ESTIAGEM
Perdi, no cerne rasgado do tempo,
onde se imantavam sonhos dourados,
as reminiscências dos pueris cortejos.
À passagem de luas e flores alvoroçadas,
exilei-me excelso entre carnes e verbos
em vicejantes despertares sem aurora.
Na intermitência do ubíquo devaneio,
mares, planícies, estações,
amores, esperanças e vastidões
a se imiscuírem em enlaces ébrios de tudo.
Com o espírito exausto do sortilégio,
a fé foi que me fugiu por derradeiro
sem nenhuma verdade da hora.
Naufraguei-me, então, nos recessos de meu ser,
e – se é que já fui –, não sou mais apóstolo,
amante ou amigo em meu estuário
nem de homens, nem de deuses.
Sou apenas um apócrifo a trafegar no desalinho
onde tremulam mortes em túmulos de vida,
porque viver é se travestir de máscaras
bordadas nas turbidezes de nossos egos.
Péricles Alves de Oliveira