Que seja



Sou velha de guerra.
O tempo me leva gradativamente
os cabelos, os dentes,
- enfim, sou gente.

Relendo O Carteiro e o Poeta,
"Chamo-me mar, repete
batendo numa pedra sem convencê-la" (*)

e não adianta,
a alma  talvez seja uma metáfora
de uma invisível célula.

Onde um núcleo eterno
circundado por milhões de sóis,
grite todo dia, lá de dentro:
- tu não és. Sempre somos nós.




(*) Neruda, p. 22

Imagem: Google