TUDO É DÉBIL QUANDO ESCURECE DEMAIS
Quando a sombra e o silêncio
me alcançaram como uma raposa faminta,
fazendo com que dobrasse-me
àquela fatídica esquina,
o que vi mesmo – e tão somente –,
diante de minhas temerárias retinas,
foi um imenso deserto seco e esvaziado
de espaços, tempos e sonhos
petrificados:
havia, respectivamente,
sinais de sangues e seivas coagulados
de árvores e de pássaros que
por ali se abrigaram
das quebras
de suas imobilidades agraciadas
e de seus voos mágicos
por outros ares;
havia areia
refratária de fogos, ilusões e luzes quebradas,
vindas das distantes janelas de sonhos,
de casas e de naves,
como se lhes
estivessem mortos ali o próximo instante,
submerso a cinzas invisíveis de
de dolorosos hiatos;
havia uma igrejinha
devastada e derrubada por chuvas
de fogo e por tempestades
de terra e mares,
em cujo interior
se encontravam barquinhos de pedra,
vasos com flores calcinadas, e alguns feixes de luz
e esperança que fez a força do vento
ao chão se deitarem;
e havia-me um dilacerante
medo de me adentrar àquelas margens
– que agora bem sei comporem
meu próprio fulcro
desnudo –,
até que, em demente tentativa
de desvendar-lhes os segredos, lancei-me a caminho,
transformando-me em apenas mais uma
densa e anônimo estátua
sem alma viva,
enquanto, ao longe, contemplava-te
em sublimes revoadas por céus refratários
feitos por homens, anjos e mitos,
com suas esplendes
ilusões vazias.
Péricles Alves de Oliveira