TUDO É DÉBIL QUANDO ESCURECE DEMAIS

Quando a sombra e o silêncio
me alcançaram como uma raposa faminta,
fazendo com que dobrasse-me
àquela fatídica esquina,

o que vi mesmo – e tão somente –,
diante de minhas temerárias retinas,
foi um imenso deserto seco e esvaziado
de espaços, tempos e sonhos
petrificados:

havia, respectivamente,
sinais de sangues e seivas coagulados
de árvores e de pássaros que
por ali se abrigaram

das quebras
de suas imobilidades agraciadas
e de seus voos mágicos
por outros ares;

havia areia
refratária de fogos, ilusões e luzes quebradas,
vindas das distantes janelas de sonhos,
de casas e de naves,

como se lhes
estivessem mortos ali o próximo instante,
submerso a cinzas invisíveis de
de dolorosos hiatos;

havia uma igrejinha
devastada e derrubada por chuvas
de fogo e por tempestades
de terra e mares,

em cujo interior
se encontravam barquinhos de pedra,
vasos com flores calcinadas, e alguns feixes de luz
e esperança que fez a força do vento
ao chão se deitarem;

e havia-me um dilacerante
medo de me adentrar àquelas margens
– que agora bem sei comporem
meu próprio fulcro
desnudo –,

até que, em demente tentativa
de desvendar-lhes os segredos, lancei-me a caminho,
transformando-me em apenas mais uma
densa e anônimo estátua
sem alma viva,

enquanto, ao longe, contemplava-te
em sublimes revoadas por céus refratários
feitos por homens, anjos e mitos,
com suas esplendes
ilusões vazias.

Péricles Alves de Oliveira
Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)
Enviado por Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent) em 29/09/2014
Reeditado em 29/09/2014
Código do texto: T4980705
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