ACINZENTADO

Lembro-me
como se fosse hoje
da primeira vez em que abri “Humano,
demasiado humano”:

era um janeiro
que a nada iniciava, as chuvas
já me castigavam
adentro

e, ao me alagarem,
eu as deitava em [incontidas
e vesanas] tempestades
pelas bordas.

Em meados
de um mês depois, enforquei Zaratustra
ao ego de Nietzsche;

a alguns anjos, mitos
e lendas, preguei aos pés secos
de seus apócrifos
criadores;

às andorinhas azuis,
às santas alvissareiras e às mariposas
de voos razantes,

consenti-lhes
[com minhas atuações aracnídeas]
às ondulações do corpo, às ilusões da mente
e às quedas recorrentes:

houvera descoberto,
enfim, o grande palco das arritmias
por onde nos apresentamos
a tremeluzir,

entre fogos iludidos
e névoas secas [com anseios anímicos,
iluminuras vocais e hastes
selênicas]

os avessos túrbidos
de nossos reflexos, à ausência de fiéis espelhos
e sobre os sísmicos chão brancos
em que nos andamos.

Péricles Alves de Oliveira
Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)
Enviado por Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent) em 22/10/2014
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