Pós Moderno

Em longo arquivo fica a memoria

Do corpo

Da alma

Do esquecimento

Do mar

Da Morte

Do sal

Do sofrimento

Das penumbras

Das pernas

Do suor e do sangue

Do Olho cego

Da voz inerte

Do pasmo olhar

Da barbara face

E dizer que tudo foi outra coisa

É papel verdade

Sei o que fogo e o que não escondo

Derramo

é sempre outro céu

outro nome na palavra

no silencio sem rumo

Na boca

Na casa sem Norte

No beijo

No calor de um beijo

Hoje

Nas sombras

Nas ondas

No mar

Na casa velha

Escrever é falar outras línguas

Sem o dizer

É a reza doutros mortos

Sem ódio

Sem o pudor

Sem o sangue podre e rasgado

Do primitivo

Do engenho sagrado

Da regra branca do verso talhado

Escrever nestas horas

São outras paisagens

Outro ar

Outra noite

Outra paragem de pinho

estrelas de amor

Passo na reflexão as mãos e o pensamento

Escrever tem outro nome

É em tudo um outro amar

Uma religião de sangue no nome da palavra

Na sagrada voz da voz

Na horas secreta dos poemas

Poetas desta imensa curva secular

São outros hospedes

Noutro barco

Em Porto outrem

Sacerdotes eu digo

Amantes eu falo

Uma qualquer outra paixão e forma de dizer

as pedras e as vozes e as sombras da realidade submersa

Sem nome

Sem pai

Mar

De outros ossos

De outras vidas

De outras luzes

Esquece o verso épico

Tudo isso é não verdade

A verdade está na carne

Está no sangue desta lua

Está nesta passagem

O poema está coberto de voz

O poeta está liberto de vós

É anjo voo

Mora nos céus da sua imaginação terrestre

Sacerdotes sem nome

Eu diria

Tudo acaba e começa nestas palavras

Eu não tenho mãos nos versos das ideias

das palavras

Tenho os braços e a boca e o mundo inteiro

Nu dentro do astro

Desta ânsia e fúria do escrever de novo

Agora sem regra

Moderno, diziam

Isto é verdade

Se na minha cara moram outros mortos

Penso que vou falar ou morrer noutra hora

Uma hora mais funda com estas noites no passado e por dentro

Estou confuso de pensar-te pura

Na flor do meu desejo de tocar-te

Estou pasmo

Cansado

Velho de mim e da voz dos antigos

Tenho fome desse infinito entre a carne e o desejo

Tenho a luz coberta de estrelas e sonho

A minha juventude estala e relampeja na solidão do pensamento

Tenho frio

Por dentro

Onde ninguém o sabe

Tenho fome dos teus cabelos

Passo e sinto as mãos dos mortos

Na morada frágil

No olho nu

Nunca saberás o que falo

Eu falo a língua nova dos poetas

A morte a noite o dia a chama

O meu verso é uma paixão renascida

É vida

E adormeço junto ao sol e ao prado

Tenho um nome guardado no sentimento dos teus braços

Uma somente palavra de fogo e chama

Tenho fome

Esta lua aumenta segundo os meus olhos

a minha voz

Corro e tenho medo do azar

Da elegia moribunda do cheiro a morte

Demasiado jovem da carne e do espírito

Corro entres a sombras do abismo feroz

Meus poetas de raiz estão comigo

Estão escritos no meu peito

No céu da minha boca

Na saliva trago o verso novo

Na língua falo uma outra voz

Uma outra palavra

Uma lua de amanhã

Henrique António
Enviado por Henrique António em 29/05/2016
Código do texto: T5650442
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