ÚLTIMOS TEMPOS

Da varanda que dá ao terreiro,
vejo pássaros sem nomes
a pousarem e a se irem de meus
secos varais;

ando até o portão
e espreito fora o formigueiro,
pessoas sem nomes passam,
sobem e descem pela rua dos ventos
e dos cataventos,

balbuciam algumas coisas
que não ouço, que não me existem,
outras têm o semblante fechado
e o silêncio dos ausentes
sem nomes;

adentro novamente a casa
e subo ao terceiro andar pelos degraus vazios,
abro a janela de meu quarto
também vazio

e avisto montes anabolizantes,
jaminés esfumaçantes, nuvens dançantes,
e aquela distante mulher sem rosto,
sem nome

que imaginava desde
a minha infância há muito perdida,
que não passa, que não vem,
mas que um dia virá

– com a carcaça cansada,
já avançada em falésias e naufrágios,
permito-me ainda, meio enlouquecido talvez,
essa estúpida esperança entortecida –,

para convidar-me para a última
e definitiva valsa, em sonho esculpido a silêncios mágicos,
e a enlaces pueris e esplêndidos,
promovendo-nos a liberdade das saliências
duras destes chãos.
Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)
Enviado por Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent) em 28/06/2016
Código do texto: T5681445
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