ÚLTIMOS TEMPOS
Da varanda que dá ao terreiro,
vejo pássaros sem nomes
a pousarem e a se irem de meus
secos varais;
ando até o portão
e espreito fora o formigueiro,
pessoas sem nomes passam,
sobem e descem pela rua dos ventos
e dos cataventos,
balbuciam algumas coisas
que não ouço, que não me existem,
outras têm o semblante fechado
e o silêncio dos ausentes
sem nomes;
adentro novamente a casa
e subo ao terceiro andar pelos degraus vazios,
abro a janela de meu quarto
também vazio
e avisto montes anabolizantes,
jaminés esfumaçantes, nuvens dançantes,
e aquela distante mulher sem rosto,
sem nome
que imaginava desde
a minha infância há muito perdida,
que não passa, que não vem,
mas que um dia virá
– com a carcaça cansada,
já avançada em falésias e naufrágios,
permito-me ainda, meio enlouquecido talvez,
essa estúpida esperança entortecida –,
para convidar-me para a última
e definitiva valsa, em sonho esculpido a silêncios mágicos,
e a enlaces pueris e esplêndidos,
promovendo-nos a liberdade das saliências
duras destes chãos.