VENTANIA
Ventou diferente
na planície onde te puseste
a sonhar.
Sob um sol
de sílabas incautas,
ergui, de verso
em verso,
um reluzente
castelo de barro e junco
para abrigar teu olhar perdido
no oposto do
mar.
Alagado
em meus veios,
adoeci minha razão,
ornei-me de seda e âmbar
para engravidar teus sonhos
e te roubar o
coração.
Sem adiar
o fulgor do momento,
movi a inércia de teus gestos
com minha argúcia,
desnudei-te
do vestido gris
com a calidez de minhas
mãos,
contornei-te
as sinuosidades do corpo
com a seiva de minha
boca
e desbravei-te
a foz dádiva com o êxtase
de minha
haste.
Após o gozo
de sílabas e de carnes,
quando mais me sentia
seguro,
adentrei-te
os segredos do labirinto,
e contemplei-te o excelso
da alma.
Foi neste momento,
então, que compreendi:
Na confluência
de nossos líquidos,
no amálgama de nossos lumes,
e na impossibilidade de nossos
sonhos
– por acorrentamentos
entre as coisas do mundo –
havia
perdido minhas asas
no enlace eterno de nossas
almas!