CAUSA MORTIS
Me chapei de tanta letra
e deu mutreta, treta.
Fumei todas as pedras do caminho
lendo Drummond.
Injetei altas doses de Manoel
e dei Bandeira.
“Cheirei” Neruda a noite inteira
e “viajei” nas cordilheiras.
Me internaram em uma clínica de recuperação
mas fugi, quebrei as algemas
li a noite toda
centenas de poemas.
Fui parar em um
Poemódromo
eu e uns camaradas:
era soneto, rima, verso livre, haicai
a literatura estava “noiada!”
poema tá um pouco fora de moda
e o vício é foda;
vendi meu celular e meu pc
pra comprar “uns quintana”:
mas só deu pra uma semana.
Novamente uma desintoxicação:
"insta", twitter, televisão,
eu gritava: essa merda não!
Não me levem a mal:
sou analfabeto digital.
Então enfiei de vez a “mão na jaca”
sai de mim:
rimbaud, cecília,
carpinejar, silvestrin
tava virado numa traça
numa literária – carcaça
enlouqueci nas entrelinhas
e faleci no outro dia:
diagnóstico:
- morri de tanta poesia!