CAUSA MORTIS

Me chapei de tanta letra

e deu mutreta, treta.

Fumei todas as pedras do caminho

lendo Drummond.

Injetei altas doses de Manoel

e dei Bandeira.

“Cheirei” Neruda a noite inteira

e “viajei” nas cordilheiras.

Me internaram em uma clínica de recuperação

mas fugi, quebrei as algemas

li a noite toda

centenas de poemas.

Fui parar em um

Poemódromo

eu e uns camaradas:

era soneto, rima, verso livre, haicai

a literatura estava “noiada!”

poema tá um pouco fora de moda

e o vício é foda;

vendi meu celular e meu pc

pra comprar “uns quintana”:

mas só deu pra uma semana.

Novamente uma desintoxicação:

"insta", twitter, televisão,

eu gritava: essa merda não!

Não me levem a mal:

sou analfabeto digital.

Então enfiei de vez a “mão na jaca”

sai de mim:

rimbaud, cecília,

carpinejar, silvestrin

tava virado numa traça

numa literária – carcaça

enlouqueci nas entrelinhas

e faleci no outro dia:

diagnóstico:

- morri de tanta poesia!

Alexandre Lettner
Enviado por Alexandre Lettner em 24/09/2017
Código do texto: T6123586
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