A Dança
(Summertime)

 Meu corpo foi enlaçado no ‘limite da decência’ e uma mão apertou minhas costas com força, pressionando, acariciando. Minha mão, de tão apertada sob a dele, ficou machucada; a respiração acelerou, senti seus lábios em meus cabelos e acabei arranhando o peito daquele homem tão querido!

Fechei os olhos quando ouvi suas palavras de amor quase dentro de minha orelha, me seduzindo e o mundo girou mais depressa. Estávamos tão juntos quanto era possível estar - um encaixe perfeito em compasso de adágio. Implorei para que a música, tão curta, nunca mais acabasse, mesmo sem saber como minhas pernas acompanhavam os passos propositalmente lentos de sua dança se meus joelhos estavam bambos.

Ele me ‘guiou’ para dentro de sua aura, me arrastou com seu magnetismo pessoal, os dois corações pulsando muito juntos - seu desejo se casando ao meu e se expandindo sobre mim - aos acordes daquela canção tão sensual. Me deixei levar, perdi a resistência natural e toda minha força. Fiquei indefesa. Sem poder de oposição.

Mesmo com muito medo das outras pessoas perceberem o que estava sentindo, e ainda que eu quisesse, não poderia me afastar daquele abraço poderoso. Como ferro e imã!!! Mas eu não queria mesmo.  E se me pedisse - na pura magia daqueles instantes - eu teria ido com ele até o fim do mundo.

Eu parecia estar com febre - fria e quente - com calafrios pela espinha. Como quando desafiamos um grande perigo. Sentir o que sentia e ter que conter o impulso ascendente e instintivo do rosto tornou-se uma agonia para mim,  porque minha boca estava exigindo - gritando por um imenso beijo de amor que não podia acontecer! Um soluço seco ficou-me preso na garganta.

Não fizemos nada de propósito e é mais que possível que ele também tenha perdido a noção de onde estávamos. Viramos apenas um! Nossos corpos em comunhão - em selvagem harmonia – arderam numa grande chama sem fogo aparente e, quando a dança acabou, eu estava extenuada do esforço de disfarçar sentimentos tão intensos e contraditórios - completamente lassa, frouxa, sem força nas pernas - esvaziada. 

E, por ter sido obrigada a me afastar dele naquele momento absolutamente mágico, uma avassaladora sensação de perda marcou demais meu corpo e coração.

Se alguém tivesse olhado direito para nós, se tivesse prestado real atenção em meio aos outros casais ali na penumbra da pista, saberia sim  e com razão pensaria:

- “Por Deus! Eles acabaram de fazer amor! ”

 

 
Silvia Regina Costa Lima
(numa noite de 1991)



SILVIA REGINA COSTA LIMA
Enviado por SILVIA REGINA COSTA LIMA em 03/06/2008
Reeditado em 27/04/2022
Código do texto: T1018153
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