Terça-feira Se Foi

(in memorian)

A serenidade e a calmaria encobriam as marcas que os anos deixaram em seus olhos. Sabedoria da alma pura e só. Deixou em mim a saudade sem fim, a sonho nunca alcançado, as lágrimas nunca cessadas, o vazio sem fim, o vazio em mim.

Quando a porta entreabriu-se e a luz da manhã cegou meus olhos, eu soube. Contudo, não compreendi. Você simplismente não acordou, e o dia continuava lindo.

Em minha mente você dançava. Era mentira. Não mais a veria dançar, não mais me abraçaria ou rezaria por mim. Foste quem me acalentou, quem respondeu meus caprichos, quem me amou. E por menos que isto eu a amei.

Eu não sentiria mais a suavidade dos seus cabelos tingidos. Não ouviria mais o modo como arrastava seus chinelos. Ah! Como adorava seus cachos. Amava sua devoção, o seu cuidado no vestir, a sua vaidade enrustida.

Só que terça-feira se foi com o vento. E com ela eu me fui também.



* Escrito em parceria com minha irmã Karen Hack dos Santos, também recantista.
Karla Hack dos Santos
Enviado por Karla Hack dos Santos em 14/01/2009
Código do texto: T1385073
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