Solidão

Era uma manhã clara e luminosa. Daquelas que tudo sugere uma canção de gratidão ao Criador. Renata atravessava lentamente as ruas que lhe separavam da linda praia. Desceu o degrau e encostou seus pés na areia que estava aquecida pelo calor do sol. Dirigiu-se ao mar, aquela imensidão que lhe transmitia um misto de desafio e aconchego.

Encontrava-se bastante pensativa. Apesar de tudo sorrir a sua volta, uma estranha sensação de solidão tomava conta de seu coração.

Olhou o mar. Pensava em seu mundo, o mundo que conhecia, aquele que a maltratava e a presenteava. Não saberia afastar esta estranha sensação de solidão.

Solidão... Que seria isto? Por que às vezes se sentia assim? Era como uma marca, que insistia em não mais abandoná-la. Gostaria de defini-la, saber de sua origem. Pensou então em sua infância. Vinha de uma família numerosa. Tinha sido uma criança tímida, naquele momento não sentia saudades. Em pequena, já começara a experimentar aquela triste sensação e recordava que em muitas ocasiões chorara sem nem mesmo saber o porquê.

Mas agora... Passados tantos anos, a mesma dor machucava seu coração. Chegava de mansinho, sem se anunciar e tomava conta de todo o seu ser. Deixava-a ali, sem ação, como que inerte diante de tão lindo espetáculo de Deus.

Solidão, triste companheira. Paralisava-lhe os sentidos, numa tentativa de escravizá-la. Não se renderia, mas gostaria de arrebatá-la para sempre de sua vida. E quando menos esperava lá vinha ela, traiçoeira, dominando sua vontade, enchendo seu coração de angústia.

Gostaria de saber o que desejava ela. Tinha sido sua companheira por tantos anos. Passeara por sua infância, visitara tantas vezes sua adolescência e instalara-se em sua maturidade. Não, não a desejava.

Olhou novamente o mar... Que bonito, como era grandioso, de onde viria tanta água? Decerto é inimaginável a obra de Deus. As ondas vinham, molhavam-lhe a pele, e ela ali, a sonhar, a viajar. Voava para bem longe dali. Visitava terras em que não existia tristeza. Existiria realmente este mundo? Aquele lugar de seus sonhos onde tudo era amor e poesia. Embora achasse um sonho, sentia que um dia o encontraria. E isto a consolava.

Por que se sentir sozinha? Pensou nas pessoas queridas. Pensou nos amigos que havia encontrado em sua caminhada e sentiu uma onda de conforto lhe invadir a alma.

Lentamente foi fazendo um retorno em sua vida, como a procurar um motivo e não sabia porque, pesadas lágrimas lhe desciam de seus olhos.

Solidão, triste companheira, que haveria ainda de lhe furtar tantos pedaços de vida, momento preciosos que não mais voltariam. Aceitá-la seria perder, seria roubar-lhe os sonhos, onde não existem dores a cultivar. Seria isto verdadeiro? Agora, uma dúvida já se instalara em suas conjeturas. Sim, devia aceitá-la embora não devesse render-se a ela. Velha amiga, às vezes não era tão má. Permitia-lhe sonhar, pensar, viajar para longe, bem longe dali... Nestes momentos, sondava sua alma, buscava a Deus e se entregava. Solidão, mansa e dominadora. Faz parte de cada um, pois na verdade, quem não é só? Existe um lugar, bem dentro de nós, que vibra a vida de cada um. Neste recanto tão íntimo, seria ela, apenas ela, ela e Deus.

Deus... Ele sempre vinha, salvando-a de um mar de nostalgia e ela, garganta seca, coração apertado lhe falava de suas dores. Parecia-lhe ouvir então uma doce canção, uma única canção, bela e poderosa, que lhe entrava pela alma, fazendo-a sorrir. Não estava só. Um banho de luz tomou-lhe conta, fazendo-a conhecer o valor desta amiga.

Solidão... Leva-lhe a melancolia, leva-lhe a refletir, leva-lhe a sonhar, leva-lhe a amar, leva-lhe a encontrar as pessoas queridas, leva-lhe finalmente a Deus.