EXPO PLURALIDADE II - COLETIVA NO MAC/FEIRA, DE ARTISTAS SERTANEJOS DO SISAL...


O MAC/Feira promove com as Prefeituras Municipais de Feira de Santana, Teofilândia e Araci exposição coletiva, entre os dias - 17 de maio a junho, oportunidade de se conhecer a estética e os ideários de Raymundo Carvalho, Diógenes Oliveira, Júlio Firmo e Pedro Juarez.

A reedição desse projeto dá-se pelo sucesso obtido na
EXPO PLURALIDADE I / 2011.

_________________________________________________________________PROTAGONISTAS DESTA AÇÃO:

I - RAYMUNDO CARVALHO, Teofilândia, Bahia.
Observe-se, nos dizeres do artista Raymundo Carvalho, uma visão acerca do que ele chama e caracteriza como “Analfabetismo Estético”, os conteúdos ou teores que se arraigam na sua estética de e na construção de sua obra.
Como artista, professor e cidadão do mundo comprometido com os valores éticos do seu tempo e à posteridade, conquanto, ao mesmo tempo em que empresta o seu talento de criatividade a se utilizar de elementos naturais – da “própria natureza” (redundância proposital), materiais, obviamente recolhidos mortos no derredor de sua vivência – folhas, pedras, troncos, ou do descartado reciclável, etc.


Escreveu e disse:
• O analfabetismo estético é a pior desgraça que pode existir numa sociedade - seja ela qual for e em qualquer lugar do mundo, pois, antecede ao analfabetismo político, religioso, ecológico, etc.
• ... Originado no seio de cada família, ou, melhor dizendo, no útero de cada um de nós, o analfabetismo estético se alastra por todos os lugares... Há muitos que morrem sem ao menos saber que essa doença existe... Há outros que se apercebem analfabetos e prosseguem por pura ignorância e há uma pequena parte que se percebe e promove suas mudanças...
• Observa-se um analfabeto estético nas suas pequenas ações como, por exemplo, no falar, andar, escrever, ouvir, olhar e noutras ações bem mais complicadas como votar, fazer sexo... Mas são as atitudes mais corriqueiras que se traduzem nessa doença quase crônica em qualquer parte do mundo...
• A família, a religião e a escola são as responsáveis por essa alfabetização estética tão necessária e urgente...
• Longe de elas cumprirem os seus papéis, família, religião e escola, quase sempre atrofiam ou perpetuam esse analfabetismo com suas atitudes embasadas no senso comum sem limites... A família por sua vez se arvora do tradicionalismo corriqueiro e doentio...

• A religião e seu fundamentalismo asqueroso
e a escola em seus ditames pedagógicos herdados de uma Europa arcaica e de uma América do Norte atrofiada pelo poder do consumo, do lucro e da ganância...
Esse tripé não fará nada em prol de uma alfabetização estética sozinha, ou separadamente...
As três têm, por divina força, que andar juntas...
A família não será a salvação, nem a religião e nem tampouco a escola... É na educação pelo diferente, que se semeia a beleza...

“Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
Mais vasto é meu coração.”

(Carlos Drummond de Andrade)

E o mundo de Raymundo,
nascido em Biritinga,
vivendo em Teofilândia,
distante de toda restinga...
Embora oceano profundo!

Esse Artista,
extremamente profundo
na singularidade plural de:

Tamar, a esposa, que além do nome ecológico e bíblico, é uma palmeira, árvore elegante e esquia. E o que a faz ainda mais plenamente generosa é a sua compreensão de valores do que seja a "vida de artista", e, ambos juntos, souberam compor uma sinfonia com 03 filhos: Iago (19), Pedro (17) que adoram futebol e Maria Clara (13), que pretende seguir Estilista de Moda e/ou Gastronomia...

Eis o núcleo ou a gema, a mola mestra de Raymundo, o professor, o artista – a sua própria família!
Arlindo Vaqueiro, Aboiador e Repentista que, quando cantava e aboiava promovia muita emoção e fazia as mulheres chorarem.
Eis o seu pai, de quem Raymundo herdou encantamentos e orgulhos.

Raymundo Carvalho esteve recentemente expondo na Galeria Nelson Dahia, no Pelourinho e estará em breves dias em Salamanca, Espanha.

Raymundo é uma grande figura e ao mesmo tempo, simples, jamais simplório, "criatura criativa do Criador". Excelente contador de histórias e um bate papo fecundo.

 
Raymundo
sem querer rimar,
mas, já rimando,
é dono do seu nariz
no comando do seu mundo!

E mais pra cá do que pra lá estará com o seu “brasileirismo”, “baianidade” e “sertaneirice brejeira”, no MAC – Museu de Arte Contemporânea / Feira de Santana, expondo sua obra para o deleite de todos os amantes das Artes Plásticas e em conjunto com seus territoriais confrades dessas mesmas artes, que são Diógenes Oliveira, Júlio Firmo e Pedro Juarez.
II - DIÓGENES OLIVEIRA

Nascido em Teofilândia, 53 anos.

“Não tem como ser diferente, assim crê quê, o motivo pode ser quando da minha vivência em Salvador durante os breves longos 12 anos, onde assisti a muitos casos de violência, inclusive a que eu próprio sofri, ao ser levado, junto com o meu carro por dois marginais e abandonado em Stella Maris, sendo esse o principal motivo da minha mudança para o interior.
Imaginava, inclusive, que lá seria um paraíso, mas vejo que existe um descontrole muito grande entre a lei e a bandidagem, e que, todos nós estamos presos atrás das belas grades, que mandamos construir para colocar em nossas próprias residências, que ao mesm0 tempo que embelezam, tiram-nos a liberdade...”

...Vejo tudo isso e fico preocupado com o futuro de crianças e jovens, onde tudo é incerto, em termos.

Observo que nas pequenas cidades do nosso território não existem Centros Culturais, Bibliotecas, e, acredito que, essa falta tem forte influência no desequilíbrio de muitos jovens, que por não terem nada para fazer nos fins de semana, vão aos bares a se embriagar, daí a um passo, entram no mundo das drogas e da prostituição... Provavelmente com os tais centros e com atividades artísticas, como rodas de capoeiras, apresentações teatrais, houvesse uma menor incidência de jovens sem um rumo, perdidos pelas más companhias, que influenciam negativamente.

Com esses pensamentos faço meus trabalhos que servem de reflexão para todos, sou pouco poético nas criações e na rudeza do que se vive o dia a dia, trabalho mais o social, pois essa é a realidade nua e crua.

Nessa exposição vou mostrar obras feitas em papel metro, os quais serão amassados e fixados sem molduras. São trabalhos em preto e branco e outros coloridos, em tamanho grande. Acho que o amassamento dará um resultado interessante, pois transforma o estético em movimento, involuntariamente, dependendo do local que o espectador estiver posicionado.

As prováveis obras expostas serão:
* Psicodélico - Uma viagem no tempo dos anos 60;
* Hipocrisia - Aborda a questão do racismo;
* Somos Todos Palhaços - Refiro-me a questão da corrupção;
* Sistema - Denuncia a questão do poder dos presos, que mesmo encarcerados controlam todo um sistema de ações contra a sociedade;
* Metamorfose, sem histórico, e...
* Abolição Sem Histórico – “dizem que sou louco por te amar assim”, denota a canção, a questão das loucuras que fazemos quando temos metas.

Assim, acho que dá para entender o básico dentro das minhas ideias artísticas.

Diógenes é casado com Nalva, natural de TUCANO. Têm um filho, Daniel (11 anos) e uma filha Dulce Vitória (7), e, ao que tudo indica tem uma certa atração por assuntos artísticos, tais como: O Teatro, as Artes Plásticas e/ou virá a ser Modelo, Atriz... Esses desejos de coisas que atiçam a imaginação das crianças construindo pirâmides alicerçadas nos sonhos palpáveis.

É extremamente preocupado com problemas sociais e essa preocupação reflete diretamente nas suas obras.

"Vi um de seus quadros numa parede da DIREC-12, em Serrinha, e encantei-me, desde então, com essa sua obra, que transmite em nossa alma algo tão intenso, através das imagens e do colorido que penetra pelo nosso olhar e ramifica pela mente e pelo coração."
III – JÚLIO FIRMO

De onde vem o artista?
De Teofilândia, pequena cidade cravada e cravejada no sertão baiano, donde se extraiu e de suas entranhas dentro das terras, saiu, dentre pedras e pedras, o ouro, mediante os sofrimentos do seu povo. Para onde? Sabe Deus!

Júlio é firme nesse seu ser cheio de talento & sentidos & sensibilidades...
Jovem, ainda, muito jovem, deu de se dar, a descobrir-se na inquietude desde a mais tenra idade e em suas traquinices e traquinagens, a riscar, cortar, tecer o tear de sua vida, o cidadão e o artista a fundirem-se...

Júlio Firmo é firme em afirmar como artista, suas influências nas manifestações culturais e artísticas, conforme os versos que falam mais alto que seus ditos orais, rememorando tempos remotos desde que se sentiu ou se viu como GENTE, acerca de um desses eventos purissimamente popular:

O CARNAVAL DA ROCINHA
No carnaval da Rocinha
cabe gente de muita linha,
senhores, senhoras, senhorios,
crianças de colo e as grandinhas,
meninos, meninas, velhinhos e velhinhas.

De gente humilde
que trabalha na roça
e ainda nela vive
e o carnaval da Rocinha
se mostra num momento
em que todos se reúnem pra brincar
e tomar a vida sofrida
de um povo lindo que vive,
de casa pra roça
e à pequena igrejinha
na fé que se terá,
já se teve,
se tem e se tinha!

"Começou na década de 50,
quando o povo da Rocinha
saia de suas casas,
ainda de manhãzinha
e se dirigia pra sede
dançando e cantando
marchinhas de carnaval
entoada por instrumentos rústicos...

Vestidos com mortalhas,
máscaras e adereços
correndo atrás das crianças
que fugiam de tanto medo.
Mas numa alegria sem preço...
Só apreços!

Nos bares de Pissilu,
de Seu Viana,
Bar de Matheus
e no de Zé de João
passavam o dia
tomando cachaça
tocando, cantando,
dançando e espantando
a quem passava,
os males e mágoas de seu coração...

Por isso convido a todos
a conhecer as belezas
dessas manifestações culturais,
que só Teofilândia tem em abundância!


Pedra ou Teofilândia?...
Teofilândia ou Pedra?...
Pedra sim, assim, de tão preciosa,
nos sertões desses rincões...

“No meio do caminho”
entre um e outro Brasil
de um nordeste árido, arredio,
nas trilhas desse caminho,
“teve, tem e sempre terá uma pedra...”
Preciosa pedra na vida da gente,
de viés, e restrevela, tudo ali se revela...
Embora as agruras,
Mas, tudo sempre coisa tão bela!
Teofilândia é essa pedra...
E o povo da Rocinha
até hoje medra,
a recordar os caretas
dos antigos carnavais
lá de sua Rocinha!...


(Manuel Bandeira, texto entre aspas)

O poema acima reflete o que Júlio transmite em sua obra artística, postas em papéis de variados tamanhos e utilizando-se de temas como política, cultura e fatos que acontecem no cotidiano em afirmação consciente do seu pensar dentro de sua visão de mundo, com desenhos, geralmente em caricaturas descontraídas.
Creio eu quê,
nada mais a dizer...


IV – PEDRO JUAREZ
Araciense de 4 costados, 29 anos dedicados ao conhecimento e ao desenvolvimento cultural, e, é claro, artístico. E, se faz reforçado na sua trajetória na busca incessante do conhecer, com participações em diversos cursos além dos regulares, na diversidade universal dos vários-saberes, que o tornam professor competente e dedicado, cidadão ilibado.
 
É uma pessoa muito querida pelo discente, pela docência e pelos concidadãos de sua cidade.
 
Sempre correndo - saindo e chegando à frente, quando se trata de oferecer suas obras para o deleite requintado do público, através da participação em Editais ou ainda na espontaneidade, toda vez que lhes solicitam participações em eventos e momentos desse quilate. Como eu disse “requintado”, acrescento, pois, e também para aqueles seres em formação, “sem perder a ternura, jamais!”
 
Seus trabalhos são irrigados por várias referências, que vão desde a influência da cultura pop, da street arte e da arte rupestre, onde dessa ultima busca aproximar-se de suas cores, texturas e movimentos. A utilização da técnica de stencil é algo constante nas suas criações, deslocando- o das paredes das ruas e dando novas ressignificações em outros suportes. É nessa ideia, que surge, por exemplo, as obras “Revolucione-se I e II e Jogo da memória, onde imagens de pessoas de diferentes atuações aparecem provocando questionamentos políticos e socioculturais. Sobre a obra Revolucione-se I e II escreveu:
 
Na Ditadura Militar brasileira, supostos “marginais” que atentavam contra a ordem pública e à vida dos cidadãos brasileiros eram perseguidos, presos e torturados. Uma das formas para tentar localizar esses “marginais” era colocando cartazes pelas cidades com o termo PROCURA-SE.  Carlos Lamarca e Vladimir Herzog foram um dos que foram considerados subversivos e altamente perigosos, ambos foram assassinados no regime.  Ao contrário do que pregavam os militares, eles foram verdadeiros heróis que lutaram até a morte para instalar a democracia no Brasil. Contrapondo com esses cartazes, as obras Revolucione-se I e II mostram a imagem de Carlos Lamarca e Vladimir Herzog triplicadas em tonalidades de cores diferentes com a frase REVOLUCIONE-SE. Sugerem devolver aos mesmos o título merecido de revolucionários e também propor ao expectador da obra uma reflexão e um convite a revolucionar-se.
 
 
É o que eu digo desse jovem que me fascina exatamente por todas essas razões.
Pedro Juarez é um artista que eu me espelho na jovial atitude tão própria dessa sua simpática empatia advinda do seu carisma.
Assim eu o vejo e assino embaixo!
 
Sem extrapolar ou forçar qualquer barra, é ele um dos meus melhores amigos e o mais identificado de Araci.
 
EXPO PLURALIDADE II é, além de um evento, um movimento aberto ao público, inclusive, a quem deseje de alguma forma de revelar!
 
(Os textos em “itálico” são de Fernando Peltier
Teatrólogo: Diretor, Produtor e Ator Teatral.
Escritor: Dramaturgo e Poeta.

Antonio Fernando Peltier
Enviado por Antonio Fernando Peltier em 12/05/2012
Reeditado em 03/08/2012
Código do texto: T3664646
Classificação de conteúdo: seguro