Eu e a Poesia

Nunca me achei poeta mas Poesia sempre me acompanhou. Poesia da música, dos pássaros, concreta, dos seres, bucólica, surreal, fechada ou aberta e em todas as modas que a tentam enquadrar, em vão. De outros autores chego a lembrar de poemas inteiros mas pareço incapaz de recordar dos meus; por isso os releio, reviro e revejo, neles busco quem sou; e não por ter rima, ritmo, métrica, por conter figuras, linguagem ou som, ter ou não ser. Poesia foge de formas e quadrados, fala sentimentês. Autoridades afirmam que poetar é sagrado e poemas com Poesia é coisa rara de se ver; não entro em atritos, muito pouco sei. Por isso é que eu digo: Poesia eu não faço, eu brinco com versos, com coisas banais. Poeta, além de alguém que engravida versos, é alguém que aprendeu a enxergar. Não sei se enxergo, mas muito do que vejo eu rearranjo, repinto e o produto retorcido — a letripulia — compartilho se me apraz. Por isso às vezes emudeço quando me pedem para julgar um poema, de chofre, dizer se gostei ou não. É que estou já convencida de que Poesia não quer ser julgada nem perseguida, ela quer ser encontrada, e por acaso, entre o comum e o especial.

Texto originalmente publicado no Bluemaedel

(bluemaedel.blogspot.com)