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Consagrar-se é morrer. Mesmo sem voz o canto continua, na ponta de dedos que devagar tamborilam sobre o fino tecido do peito. No lirismo que há no instante mais doce, do impulso que há no sangue que ferve, a tessitura da vida que desvanece para se consolidar como algo indeciso, que fracassa e vence ao mesmo tempo. Mudar-se da cidade do hábito, pois o acaso nunca está no mesmo lugar, se lançar e furtar da esperança algumas moedas, pegar o ônibus mais simples e ter a noção que hoje o acaso pode lhe dar um beijo na boca.