Estocado

Na época da faculdade, uma certa Gabriela se descrevia como o vento. Eu me divertia observando-a. Na verdade, durante um bom tempo eu quis tocar o vento com os pelos, com as mãos, com a boca... Mas me intrigava a minha falta de coragem de não confessar aquilo; de me achar estático. Anos depois, durante uma exposição no "Museu do amanhã", fui investigar de perto o que se passava numa instalação: dois panos se mexiam, se tocavam, se repeliam, suspensos por uma força que os mantinham sempre em movimento no ar. O monitor me disse em tom poético: - a união dos ventos cria o movimento. Obtive a resposta. Naquela época da Gabriela, não havia possibilidade de matérias se tocarem, se mexerem, se repelirem... de movimento. Eu era vento, estocado.

Lucian Rodrigues
Enviado por Lucian Rodrigues em 23/11/2016
Reeditado em 23/11/2016
Código do texto: T5832664
Classificação de conteúdo: seguro